14.10.05

Sem palavras...

Nas últimas horas tenho estado em transe, caminho sem direção, dirigi esta manhã até perceber que estava em Porto de Galinhas, lá estava eu, de paletó e gravata numa manhã de sol de verão. Parei o carro na beira mar e desci. Andei descalço, calças arregaçadas, camisa aberta no peito, como um sobrevivente de um grande furacão.

Estou atônito e desorientado, logo eu que sempre tive algo a dizer sobre tudo, estou sem palavras. Depois de passar algum tempo ouvindo o som das ondas do mar e vendo as jangadas velejando no mar azul turquesa resolvi me recompor e voltar à terra.

Tenho a sensação de que enquanto andava pedaços de mim caíram pelo caminho, sei que não me sinto inteiro. Falta-me algo. Talvez a minha alma tenha me deixado e partido para bem longe, levada pelas ondas do mar.
A brisa que soprou sobre mim o vento da realidade não foi capaz de me afagar o coração, nem de aplacar as dores da alma. Aflição é tudo o que eu sinto. A perda da fé não se dá em pequenas doses. Ela ocorre num determinado momento e nos corta como faca afiada. Estou sangrando. E nada do que venha a fazer poderá mudar isto.

Para onde ir e em que direção? Esta é a pergunta que me assola. Estou em silêncio, sentindo que algo de mim se perdeu em algum lugar, no tempo quem sabe. Parece que tudo o que tenho acreditado e tomado como verdadeiro esfacelou-se. Sinto meus ideais como que feitos de cristal e sendo golpeados por um bastão de madeira.

E por fim fica a sensação de ter ouvido alguém dizendo, eu te avisei, eu te disse... Você não quis me ouvir.
Como é possível que eu veja maravilhas onde não há. Como posso sentir-me tão atraído por uma beleza que insiste em me dizer que não é real. Como posso perceber tão preciosos detalhes quando sou orientado a ter outra percepção. A minha realidade está em xeque, minha visão turva, o que eu antes tinha como certo agora mostra duvidoso. Será que me enganei? Será que não fui capaz de perceber a verdade?

Não! Eu insisto em acreditar em minhas percepções da verdade, creio firmemente que tive a visão do belo e maravilhoso. Tenho certeza que toquei nas estrelas, sei que vi um anjo. Ainda que ele insista em perceber-se como um demônio.

Não vou aceitar que me tirem a fé. Não! Eu creio na alegria da vida, na pureza da alma e no amor. Sei que conheci um anjo, que caiu do céu em meus braços, que dele cuidei, suas feridas tratei, dei-lhe forças para voar, e com ele voei. Agora sei que o lugar dos anjos é em seu mundo, longe de mim, então o verei voar e partir. Não o prenderei aqui entre os mortais, neste mundo de dor e aflição.

Vai meu anjo, voa, volta para o teu mundo, leva contigo o que de mim tiraste, e que eu conscientemente te dei. Vai sem culpa nem pecado, pois o amor nunca é pecado, pecado é nunca amar. Eu ficarei daqui da terra como antes, te amando a distancia, seguindo os teus passos, sem ser percebido ou notado, estarei sempre presente. Pois ao te amar eu amei para sempre.

2 Comments:

Blogger InfinitLoop said...

Sabe o que eu acho?
Sinceramente falando?
Porque eu só sei ser sincera... Não sei passar a mão na cabeça e dizer... "ai, tadinho"...
Então, à parte com as angústias que estão te devastando nesses dias, penso que acredito que acho que imagino que suponho que tenho quase certeza absoluta que você deveria mesmo se dedicar a escrever crônicas e não poemas. Esse seu texto está maravilhoso, envolvente, com uma carga de emoção embutida que derrete quem tá lendo.

VIVA!
Beijo.

12:45 PM  
Anonymous Anônimo said...

Amei a sua forma de se expressar...não deixe de crer que a vida é perfeita!!!!
Beijão,
Amanda

5:38 PM  

Postar um comentário

<< Home