7.11.05

Uma nova oportunidade para a vida...

"A adversidade é um trampolim para a maturidade". C.C. Colton

Parte I


Estou fazendo as malas e sinto o peso de cada passo dado em direção à porta de saída. Mas é preciso ter coragem para mudar, rever conceitos, destruir mitos, construir novos paradigmas. Sinto no corpo o reflexo dos conflitos que se instalam em meus pensamentos. Agora estou diante dos meus medos, receios, limites e fragilidades. As idéias ficam confusas, as perguntas sem respostas, o caminho cada vez mais escuro.

Estou pronto para uma nova viagem, talvez repita o caminho, ou quem sabe descubra uma nova direção. De uma coisa eu tenho certeza, partirei.
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: Quero é uma verdade inventada."
(Clarice Lispector)

Parte II
Sinto-me como na era de aquário, à frente do meu tempo, meus desejos são etéreos, meus passos me levam na contra-mão dos que buscam o modelo de Platão, sou um simulacro, e como tal desconstruo o óbvio e crio o meu próprio ideal.

Mas sou um ser social e como tal quero pertencer a uma tribo, só que não me identifico numa, mais em muitas, vejo em mim um ser multifacetado, um camaleão, algumas vezes um predador noutras a caça. Mas o que mais anseio é a liberdade, quero voar, saltar, mergulhar, escalar, quero me perder dentro de meus sonhos, quero lutar contra meus monstros, e se possível vencer alguns.

FIM

Misantropia é a característica das pessoas que se satisfazem na solidão, se confunde com o eremita ou com aquele que não consegue viver em sociedade. Eu percebo este indivíduo sob outro aspecto, o misantropo é antes de tudo uma pessoa feliz consigo mesma, integrada a sociedade, e que cultiva amizades e amores, todavia sente-se bem em estar só.

O entendimento geral é que solidão significa estar só. É o completo desamparo social e afetivo, comprometendo a psique do indivíduo. Todavia estar só é diferente de ser só. Há pessoas solitárias em meio à multidão, pessoas que estão casadas e que se sentem extremamente solitárias. A solidão nestes casos é um estado de espírito, reflete conflitos internos não resolvidos ou externados.

Gosto de estar só! A sensação de paz e tranqüilidade que um vôo solo permite é indescritível, é um olhar sereno para o universo, é estar diante do criador percebendo-se uma frágil criatura. A primeira vez que fiz um vôo de planador tive a nítida impressão de ver a Deus, não no sentido estrito, mas sim na compreensão da simplicidade da vida, foi na solidão do vôo, no silêncio profundo da ausência de motores, na delicadeza dos movimentos da aeronave e na sensibilidade dos comandos que eu percebi a beleza da solidão.

Estar só é ouvir, sentir, experimentar, refletir, aprender, amar. É olhar para dentro de si e perceber-se um estranho e então buscar conhecer a si mesmo, entender os limites e então voltar desse encontro mais tolerante e compreensivo com os outros e com você.

Este mergulho para dentro de nosso ser pode permitir que voltemos mais preparados para amar, compartilhar, perdoar, e principalmente doar-se ao outro. Ter satisfação em si mesmo é importante para se entender que o outro não é, nem pode ser, responsável pela nossa felicidade. Temos no outro o companheiro de viagem, aquele que anda ao lado, e muitas vezes por outros caminhos, mas que em alguns momentos se cruzam, e é nesta intercessão que temos o encontro.

Não sou contra o casamento, a família, ou qualquer outro tipo de organização entre homem e mulher. Sou contra a infelicidade do dever ser. Não entendo como podemos ir além do que é possível. Penso que as relações necessitam de liberdade, inclusive para terminarem. Como disse o poeta um dia, um relacionamento não deve ter a obrigação de ser eterno, já que é motivado por um sentimento que pode se acabar, mas que enquanto este sentimento perdurar que se viva intensamente cada instante.

Penso que seriamos mais felizes se nos desapegássemos ao sentimento de posse. Posse sobre o outro, posse sobre os filhos, posse sobre os amigos. Entendo que é preciso evitar este sentimento que nos faz entender como propriedade aquilo que não pode ser.

Estar só muitas vezes é mais prazeroso que estar rodeado de estranhos, não no sentido formal da palavra, mais de estranhos aos nossos sonhos, nossas necessidades, nossas angústias.

Escolhi estar só, mas isto não significa que sou um solitário. Estou aberto a amar com a intensidade própria do amor, a compartilhar com os amigos cada momento de pura amizade, mas sem depositar neles, amigos e amores, a minha possibilidade de ser feliz. Serei ou não feliz a medida que me conheça e entenda as minhas reais necessidades, e não aquelas que os outros nos convencem que são importantes.

Quero me conhecer mais profundamente para então ser melhor amigo e amante. Quero ser feliz comigo mesmo para então não ser um peso ao outro seja ele quem for. Quero então deixar minha família, meus amigos, meus amores, desobrigados de buscarem me fazer feliz, pois isto é algo que só a mim compete fazê-lo
.


Mudanças
(canta Vanusa)

Hoje eu vou mudar,
Vasculhar minhas gavetas
Jogar fora sentimentos
E ressentimentos tolos.

Fazer limpeza no armário,
Retirar traças e teias
E angústias da minha mente.
Parar de sofrer
Por coisas tão pequeninas.
Deixar de ser menino p/ ser homem.

Hoje eu vou mudar
Por na balança a coragem
Me entregar no que acredito
Para ser o que sou sem medo.
Dançar e cantar por hábito
E não ter cantos escuros
Pra guardar os meus segredos.
Parar de dizer
Não tenho tempo pra vida
Que grita dentro de mim me libertar...

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Analise com critério as suas motivações! É tempo de construir!
"Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu..." (Eclesiastes 3.1)

6:45 PM  
Blogger Vida, Arte e Ecologia said...

Frederico:

Parabens, você escreve bem e se expressa com clareza e sinceridade - uma virtude as vezes rara. Seu pensamento tem um abençoado matiz filosófico. Talvez não concerde com todas as suas opiniões, mas reconheço seu talento e sede de conviver de forma verdadeiramente amiga e fraterna. Aprendemos nas Sagradas Escrituras que "onde há o Espírito do Senhor, aí há liberdade" - sim, também considero esse exagerado sentimento de posse, de uma pessoa por outra possa prejudicar os relacionamentos mais belos e verdadeiros. Podemos, em benefício próprio e das pessoas de nossas circunstâncias, deixar de ser tolhidos pelo principio do prazer e do poder, quando negam a dignidade humana. Feliz aqueles que seguem o princípio do amor pois o amor ao próximo, o serviço desinteressado é que faz com que a vida tenha pleno sentido. Deus abençõe você!

15.11.2005

p/s: visite-nos: http://vidarteecologia.blogspot.com/

10:35 PM  

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