16.9.05

Até que enfim é sexta-feira.

Todos os dias têm 24 horas, mas há dias que parecem longos demais, assim foi com esta semana, viagens inesperadas, pressão anormal no trabalho, exames médicos e muitas pendências acumuladas.

Tenho buscado criar uma nova rotina diária, acordo cedo e vou caminhar. É difícil romper a inércia de uma vida sedentária, são muitas as desculpas que surgem na mente: cansaço de uma noite mal dormida, dores musculares, preguiça, falta de preparo, limitações de horário na agenda entre outras. Mas estou decidido a adotar novos hábitos que tenham como objetivo obter uma melhor qualidade de vida.

Algo me impressionou muito nestes dias de caminhadas no Parque 13 de maio, um homem de aproximadamente 55 anos seguia a minha frente carregando uma muleta, logo que o observei senti vontade de rir de seu jeito desengonçado de locomover-se era o sádico senso de humor negro, do qual às vezes somos tomados. Ao chegar próximo daquele senhor percebi que ela havia sido vítima de um AVC – Acidente Vascular Cerebral – e que todo o seu lado direito fora comprometido. O que antes seria motivo de um riso descabido tornou-se severa lição diante de meus olhos.

Fiquei surpreso com tamanha força de vontade, os passos lhe eram muito dificultosos, seu esforço para locomover-se sem a ajuda da muleta era nitidamente doloroso, mas em suas feições contorcidas pela dor havia algo de satisfação, algo que dizia que ele não se submeteria àquela limitação, seguiria adiante. Mesmo com toda dificuldade ele deu três voltas na pista do parque, totalizando três quilômetros. Tive vontade de aplaudir sua determinação todas as vezes que cruzei com ele na pista. Aquele homem a despeito de sua enfermidade é um vencedor.

Eu havia andado dois quilômetros e estava pronto para encerrar minha incômoda atividade, mas a imagem daquele homem me fez pensar, estou dentro do grupo de risco para doenças coronarianas e posso em algum momento sofrer um AVC, afinal minhas taxas estão na estratosfera, então porque não aproveitar a oportunidade que tenho de reverter este processo, mudar os hábitos adquiridos ao longo de uma vida não é tarefa fácil. Porém muito mais difícil seria enfrentar as conseqüências que poderiam advir da permanência numa vida desregrada e inconseqüente.

No meio da semana, terça-feira, fui surpreendido com uma viagem inesperada, o que me causou tremendo desconforto. Descobri que não gosto de mudanças inesperadas na rotina diária, preciso estar preparado para aceitar algo que fuja do previsto. Não gosto de ser chamado para sair em cima da hora, ainda que seja com uma linda mulher, não gosto de ficar submetido a uma programação que eu não planejei. Isto parece contraditório com meu perfil, mas é a pura verdade.

A viagem foi de todo angustiante, primeiro pelo fato de estarmos exposto a uma alta carga de pressão para cumprir todas as atividades determinadas, o que não foi possível, depois, pelo fato de não haver uma programação prévia, levamos menos roupas do que necessitamos. No fim voltamos com metade da missão cumprida e com um tremendo desconforto. Nem mesmo as belíssimas paisagens conseguiram trazer algum benefício.

O mais interessante da viagem foi que descobri que preciso conhecer melhor o interior do estado de Pernambuco, como é bonito e diferente. Subimos a serra das Russas e de imediato percebemos a mudança no clima, saindo do litoral quente e úmido chegamos ao agreste seco e frio. Mas a paisagem é deslumbrante são vales, colinas, planaltos, um relevo muito diversificado, e tem a estrada que é um sonho, nem parece que estamos no Brasil. A BR 232 merece ser percorrida em toda a sua extensão pelo simples prazer de trafegar numa estrada segura, confortável e bem sinalizada, além de proporcionar um visual magnífico. O que me fez lembrar que tenho que renovar minha habilitação.

No hotel, uma noite no jantar, sentei-me só e pedi uma bhoêmia, fiquei ali lembrando de outro jantar. Comi um peixe grelhado com arroz, muito bom por sinal, mas faltava alguém para compartilhar aquele belo lugar, o hotel na serra, o clima agradavelmente frio e a boa comida.

Hoje de volta ao Recife o almoço da confraria. Tudo muito bom, tudo muito tranqüilo, e a constatação de como é bom ter amigos fieis e presentes. Depois do almoço o tradicional cafezinho no Café São Brás, substitui o Capuccino pelo Espumone (café expresso com leite fervido no vapor) por uma questão de saúde. O corpo leve e satisfeito com o delicioso salmão na grelha, acompanhado de arroz e legumes no vapor, e as muitas tulipas de malte e cevada, bem geladas, a mente tranqüila pela sensação de ter cumprido a jornada semanal.
Amanhã é dia de jogar tênis e tomar sol e isto me estimula.