26.6.05

Lembranças dos tempos que não voltam mais

Eu vivi muitas vidas, e cada uma delas intensamente, quando era um menino vivi a vida de menino. Recordo-me da minha infância agora distante, a vida era simples longe das preocupações dos adultos. As imagens passam diante de mim como um filme em preto e branco.

Brincávamos de bola de gude, Soltar papagaio, que no sul era empinar a pipa, polícia pega ladrão, garrafão, barra-bandeira, queimado, esconde-esconde ou 31 alerta, alguém contava enquanto todos se escondiam, havia a “mancha” lugar onde quem tocasse antes de ser tocado obteria imunidade, e cada um tentava bater na mancha (eu adorava ficar escondido e ser o último para a batida-salve-todos, era o meu momento de herói) e jogávamos futebol com bola dente-de-leite.

Tínhamos grandes espaços verdes para brincar, lembro do areial na Estância, da mata em Camaragibe, das ruas de areia em Olinda, tudo era motivo para uma brincadeira, uma aventura, uma descoberta. Nos armávamos de estilingue e partíamos para desbravar aquele mundo.

Eu acreditava em heróis e em monstros, bicho-papão, papa-fígado, que nós chamávamos papa-figo, e tinha medo do velho do saco que carregava as crianças desobedientes.

Tudo era fantástico e mágico, a noite tinha algo especial, uma sensação de descoberta, e eu me reunia aos outros, depois do jantar, de banho tomado e cheiroso, para as brincadeiras com as meninas.

As famílias moravam em bairros residenciais, não se ouvia falar em violência urbana, as calçadas eram tomadas pelos adultos que jogavam dominó, dama, baralho enquanto as mulheres colocavam as fofocas em dia.

E no sábado a noite tinha O homem de seis milhões de dólares, e todos queríamos ser o homem biônico com sua força e poder. Eu adorava ler gibi, Tio Patinhas e toda a sua turma, Homem Aranha, Batman, Fantasma e tantos outros.

Do sul do país vinham às novelas, as gírias e algumas canções, mas nós tínhamos nossos ídolos locais, Reginaldo Rossi, Fernando Mendes e aquela música que depois fez sucesso no sul “agora que faço eu da vida sem você...”, era um tempo de clara divisão do Brasil em norte e sul.

Era um tempo de sonhos e muitos dos que viveram esse tempo nunca acordaram. Ouvíamos rumores de guerra, os comunistas estavam sendo rechaçados pelo exército, tinha os seqüestros e todos temiam a polícia, mas nós nada entendíamos e seguíamos em frente na rotina diária de escola, brincadeiras e televisão.
Recife, 2005.
O Sonhador e o Poeta

Vai poeta, vai ao encontro do horizonte,
Vai até o arco-íris,
São tuas todas as cores,
São tuas todas as flores do campo,
Fui eu que te dei,
Todas para te alegrar.
Vai em direção ao mar no teu veleiro de sonhos,
E sonha, e chora, e rir, e ama, e vive, e seja feliz poeta,
Porque eu guardei toda a felicidade que você procura para te dar,
Vai poeta, olha o pôr-do-sol,
Lembra, ele é teu, eu te dei só para te ver feliz...