11.8.05

Talvez eu seja o último romântico

Hoje se comemora o dia do advogado, há 178 anos eram criados os cursos jurídicos no Brasil, um em Olinda e outro em São Paulo. O dia corria tranqüilo, a rotina do escritório, almoço com amigos no Cuba do Capibaribe, reunião e atendimento de um cliente, dessa vez não será uma separação, mas uma união, depois de anos eles resolveram casar-se. No fim da tarde já cansado afrouxei o nó da gravata, tirei o paletó e relaxei na poltrona. Havia no telefone celular uma ligação dela.

Há momentos na vida em que parece que tudo vai bem, todas as coisas acontecem dentro de uma lógica precisa, tenho vivido algo assim, até ela aparecer. Senti que perdi o controle, mergulhei no escuro. Um dia nos anos 80 durante um vôo no Aeroclube de Luisiana, estado de Goiás, meu instrutor avisou que teríamos que sofrer uma perda era parte do treinamento para piloto privado, e simularíamos uma situação para que quando viesse a ocorrer de fato eu estivesse preparado para reagir corretamente. Pena que na vida não fazemos simulações, temos que viver o momento e então reagir a ele.

Arrependo-me de ter retornado a ligação, tudo está muito recente, as emoções à flor da pele, as situações que se me apresentam não estão previstas no “manual”, então o que fazer? Qual a rota a adotar? Sinto-me num vôo cego, meus instrumentos falharam, então tenho que decidir entre prosseguir o vôo no visual ou buscar um lugar para um pouso de emergência.

Tenho a tendência de viver com muita intensidade cada momento da vida, não consigo ser um expectador, tenho que estar no olho do furacão. Eu não faço sexo, faço amor, eu não beijo, me entrego. Acho que sou mesmo é exagerado. Mas gosto de viver assim, que me importa o que os outros pensam? Importa sim quando o outro é alguém especial.

E não quero ser visto como dramático, não o sou. Sou intenso, atirado, inconseqüente, sou um homem livre, e tenho diante de mim o mundo, há tantos caminhos a serem trilhados, tantas emoções a serem sentidas e estou aberto a todas elas, persigo o epitáfio “Confesso que Vivi” e quero da vida tudo o que ela me reserva, cada pôr-do-sol, cada amanhecer, cada luar, cada estrela no céu, cada sorriso e cada lágrima, afinal não há dia sem noite, e nenhuma dor que não tenha em troca um grande prazer.

De uma coisa eu tenho certeza, jamais serei compreendido.




Minha Essência

Sentado na areia da praia olhando o mar,
Ouvindo o barulho das ondas,
Sinto o toque do vento em meu rosto,
Fecho os olhos e me deixo levar...
Sinto-me como uma gaivota,
Voando sobre o mar,
Gritando bem alto,
Vencendo ao vento,
Subindo aos céus,
Mergulhando no mar de águas claras.
Na imensidão desse horizonte contemplo o meu destino,
Meu caminho...
Não sou daqui,
Não sou de nenhum lugar,
Sou do mundo,
Viajante nesta terra de sonhos,
Prisioneiro de mim mesmo,
Refém do nosso tempo...
Ah! Liberdade que me tentas,
Esse gosto de partida,
Essa inquietude de minha alma,
Esse não querer ser comum...
Assim sou eu,
Um pescador de ilusões,
Um aprendiz de poeta,
Um sonhador...
Ou apenas um homem em busca de si mesmo.

Recife, 2000.