21.8.05

Lobos do Mar

(Este lugar é ideal para jogar a âncora)


Hoje o dia começou com ares de ressaca, nublado e cinzento. Acordei cedo na expectativa de aproveitar o dia e me deleitar ao sol jogando tênis. Logo recebi um telefonema que mudou tudo. Do outro lado da linha um amigo me convida para olhar um barco no Cabanga Iate Clube. Eu nem pensei, aceitei o convite e me vesti adequadamente para a ocasião.

O encontro foi divertido, no carro muita música e papo furado, chegamos cedo e o proprietário do barco nos aguardava, homem muito educado, Italiano, lembrava um personagem de La Doce Vita, logo nos apresentou o marinheiro e se despediu indo com a família velejar.

Olhamos tudo no barco, desde o casco, passando pelas acomodações internas, equipamentos, assessórios indo até o motor. Por fim decidimos que não se pode avaliar um veleiro sem colocá-lo na água. Na verdade a idéia de colocar o barco na água foi minha, eu queria aproveitar a oportunidade e veleja um pouco.

Colocamos o barco na água e partimos para um rápido passeio. Verificamos as velas e os mastros, o detalhe é que eu num rompante de irresponsabilidade adolescente me ofereci a subir no mastro principal, nem sei para quê. Num instante eu estava seguro e me divertindo enquanto cassava as velas no convés de proa, no outro eu me percebi no alto do mastro principal olhando não sei o que nas carretilhas de não sei onde. A sensação é de admiração com a visão que se tem de cima e ao mesmo tempo de terror em cair.

Subir foi fácil, terrível foi descer, tanto que fiquei um bom tempo lá em cima imaginando como descer, primeiro pensei em saltar para dentro da água, mas temi errar o salto e bater na borda do barco, depois imaginei em escorregar pelos cabos, mas logo percebi que queimaria a mão. Foi quando o Severino, que não é o presidente da Câmara de Deputados, sugeriu, percebendo o imbróglio em que eu havia me metido, que eu descesse pela escada do mastro central, sem olhar para baixo. O que eu obedeci sem contestar.

Tirando este fato sem maior importância a viagem transcorreu na maior tranqüilidade, até que percebemos que não havíamos “municiado” o barco. Não se pode encostar um veleiro na praia e simplesmente pedir uma cerveja e um peixe na brasa. Estávamos no mar sem ao menos uma garrafa de água mineral. O Severino é claro tinha tudo, para uso dele. Chegamos à conclusão de que teríamos que retornar, pois a sede estava apertando. Dividimos a água do nosso precavido Severino e voltamos ao Clube.

Resultado de uma manhã de velas, sede e fome: é que estou vermelho como um camarão. As costas ardem pelo sol que tomei enquanto fazia as vezes de espia no alto do mastro central. O corpo está todo dolorido de tanto enrolar cabos de velas e correr de um lado para o outro para caçar e soltar vela. Mas no fim chegamos os dois com aquela cara de satisfação, como dois meninos que se cansaram de brincar com o novo brinquedo.

No fim ainda contamos vantagem para um grupo de quatro gaúchas que estavam tentando velejar na saída da barra. Explicamos tudo e ainda fizemos aquela cara de quem sabe tudo. Claro que o “santo” Severino nos dizia o que deveríamos fazer e como orientar as incautas velejadoras. Como eram bonitas aquelas moças. Em um momento, depois de montarmos tudo, olhamos um para o outro e tivemos a certeza de que fomos usados para fazer o trabalho duro. Mas que importância isso pode ter, ao menos fizemos algum exercício físico e tivemos quatro lindas mulheres sorrindo para nós e fazendo com que tivessemos a impressão de que éramos importantes.

No fim ficamos bem na fita, afinal as moças nos convidaram para sairmos com elas, para uma aula sobre os segredos do mar. Eu comentei com meu amigo que elas querem mesmo é economizar com o marinheiro. O que está evidente é precisamos, com muita urgência, aprender algumas lições básicas sobre veleiros com o nosso marinheiro oficial, Comandante Severino, sob o risco de vermos nossa reputação de velhos lobos do mar ir por água, literalmente. É claro que demos uma gorda gratificação ao simpático e discreto marinheiro, que tudo fez para que o nosso dia fosse um sucesso.

Amanhã é segunda-feira e começa a diversão.