3.2.06

Bolo de mel uma Rosa vermelha e Prosseco.

Eu nasci no dia um de Fevereiro de 1963, mas até hoje ainda não me habituei a comemorar esta data, por muitos motivos, primeiro porque cresci numa família que nunca comemorou nenhuma data festiva, segundo porque depois que fiquei adulto assumi a postura de dizer que não gostava de comemorações. O tempo passou e no fim passei a acreditar que as comemorações são constrangedoras...

Durante o tempo em que fui empresário sempre informei aos funcionários que não seria bem aceito qualquer tipo de comemoração em minha homenagem, assim construí uma imagem de uma pessoa avessa a esse tipo de festividade.

Ultimamente desenvolvi um novo hábito, passar o ano novo dormindo, só no dia seguinte vejo as reportagens sobre o Reveillon. Natal é a mesma coisa, no fim chego à conclusão que me tornei um chato, alguém que não se empolga em festas, seja qual for o motivo da festa, só me recordo de comemorar os títulos de futebol do Náutico e da seleção brasileira, nem carnaval eu brinco mais.

Mas este ano aconteceu algo surpreendente que mudou minha perspectiva sobre comemorações e festas, meu aniversário começou com um emocionante telefonema no primeiro minuto do dia, fui acordado com uma voz suave e melodiosa que me desejava um feliz aniversário, algo aconteceu naquele instante, foi como se uma represa que durante muitos anos conteve rios de emoções fosse finalmente rompida. O transcorrer do dia foi de mensagens de carinho e felicitações, todas recebidas com muita alegria, todas falando fundo na alma, todas fazendo tremer o coração.

No dia seguinte, quando eu já sentia saudades do dia anterior, chega pelo correio uma caixa endereçada a mim. Foi impossível disfarçar a emoção, senti-me como uma criança que é surpreendida com um presente. Fiquei entusiasmado e ansioso para abrir e ver o seu conteúdo, mas contive a emoção e guardei o momento para quando estivesse na privacidade do meu quarto.

Dentro da caixa maior havia uma menor, preta e ornada com barbantes rústicos que lhe servia de amarração, preso a caixa havia um cartão sem remetente, nele estava escrito, "Não houve forma de fazer chegar na data. Ainda assim, PARABÉNS!!!", eu já sabia quem era a pessoa por trás da surpresa...

Sentei-me na cadeira do quarto e coloquei a caixa na cama, aguardei um tempo para saborear a expectativa do que poderia conter naquela grata surpresa, então lentamente desfiz os laços e abri a tampa. Dentro estavam elegantemente acomodados uma garrafa de espumante italiano, uma rosa vermelha colombiana e um bolo de mel de Fred Frank (muito legal a coincidência no nome).

Nunca algo me fez tão feliz, em cada elemento cuidadosamente escolhido naquela composição havia um sentimento enorme de carinho, atenção, amor, fui atingindo com tamanha demonstração de afeto, com tanto esmero na simbologia de cada elemento: o prosseco simbolizando a comemoração tocando nas emoções, o bolo a festa saciando os desejos do corpo, a rosa o amor, ícone maior de um afeto.

Tomei a bebida em uma taça de cristal, olhando pela janela do meu quarto o mar escuro naquela noite iluminado pela lua que já despontava no horizonte, cada borbulhar fazia arder em mim à chama da paixão, fui arrebatado, tomado de súbito, levado a lugares e momentos em que estivemos juntos, em que nossas bocas se calaram, nossos corpos se tocaram e fomos consumidos. A rosa foi beijada como que sendo a sua pele, na textura suave de suas pétalas e no cheiro delicado senti o seu toque. O gosto adocicado do bolo lembrou o gosto de sua boca, seu beijo tão ardente que me faz perder a noção do tempo.


Foi um dia fantástico e que me motivou a repensar certas atitudes, a enfrentar certas situações e a buscar novos dias. Tenho certeza que amanhã será sempre melhor do que foi ontem. Hoje começo a viver de olho no futuro, deixando o passado para trás, vivendo o hoje com tudo o que é possível. Vou sair da toca, sei que vai ser difícil, pode ser inclusive doloroso, mas é hora de seguir em frente rumo a um novo tempo e construir uma nova história.