15.1.06

UTI CORONARIANA – Uma experiência


Sábado de sol, um bom dia para uma partida de tênis. A rotina se repete, jogar, conversar, para depois relaxar na piscina – o que para uma amiga minha é um crime para quem mora numa cidade litorânea – acontece que este sábado reservou algumas surpresas.

Sol forte, quatro horas ininterruptas de jogo, ao meio-dia uma sensação de desfalecimento, o cansaço era tão grande que não havia como andar, câimbras, tontura e uma nítida impressão de que havia rompido o limite do corpo. Após parar por um tempo vem o convite para jogar com um jovem que havia chegado ao clube e estava sem parceiro. A vontade de ser solidário era maior que a razão, pois o corpo já havia enviado os sinais informando que era tempo de parar. Depois de um set jogado o resultado foi um placar de 6 x 0 e uma forte dor no peito. Horas depois eu estava na emergência cardiológica terminando o dia internado na UTI coronariana.

Ser atendido pela ambulância é algo constrangedor e ao mesmo tempo gratificante, de um lado todo o estardalhaço das sirenes e procedimentos de emergência, do outro a sensação de segurança e pronto atendimento.

Depois de muita dor e sofrimento na emergência cardiológica ouvir que seria internado na UTI foi algo surpreendente, um choque de realidade capaz de fazer pensar sobre toda a vida. É impossível não pensar na morte numa hora dessas, é inevitável não avaliar a vida, no fim sempre sobra algo de novo na consciência.

O ambiente da UTI para mim foi de extrema segurança, todos transmitiam uma forte determinação e capacidade para agir dentro daquilo a que se propunham, tratar de um paciente de risco coronariano. A equipe de plantão era ótima, seguros, simples, determinados e principalmente gentis.

Ter um médico que te acompanha por muito tempo é imprescindível nessas horas, pois aqueles detalhes da história clínica do paciente são fundamentais para elidir as dúvidas sobre o diagnóstico. Eu não estava enfartado. Isso para mim estava bastante claro, para os médicos plantonistas não. Mas graças à intervenção do meu cardiologista minha estada na UTI não passou de um fim de semana.

O TPK está alto, fora do comum, isto é um indicativo de comprometimento coronariano. Este era o discurso de todos os plantonistas. O meu era de que eu havia estado no limite das minhas condições físicas e o corpo deu um sinal para que eu parasse. No fim estou em casa.

O que ficou disto foi uma grande lição. Não sou tão forte quanto penso, nem tenho mais dezoito anos.

A vida é tão frágil e nós, às vezes, vivemos sem perceber ou pensar na provisoriedade da nossa existência. Vivemos para morrer um dia!

Ainda bem que o meu dia ainda não chegou, portanto há muita a ser vivido, e muito que aprender. O melhor é que sei que a hora é de mudanças, de buscar uma melhor qualidade de vida em conformidade com minhas condições e limitações, e não viver por viver.