O caminho
Hoje estou de ressaca, o dia de ontem foi intenso, estou diante de minha imagem refletida no espelho, o espelho da minha consciência. O momento atual é de preparo, sinto-me como nos tempos do remo em Brasília quando estávamos treinando para uma competição, o período que antecede a disputa é de muita ansiedade, tudo é feito no sentido da competição, alimentação, condicionamento físico, mental e aprimoramento da técnica.
Este ano será de preparação, tudo que faço está diretamente relacionado com o próximo ano, e isso cria um estado de grande ansiedade. Ter que fazer hoje na expectativa de ver o resultado amanhã é uma experiência que exige paciência. Logo eu que sou impaciente, ansioso, agitado. Às vezes fico observando o meu professor de Aikido, seus gestos largos, sua cadência, seu equilíbrio, percebo que existe harmonia naquilo que ele faz, talvez seja a influência da filosofia Zen.
Estou em compasso de espera, tenho que sobreviver a este ano, concluir o que comecei, finalizar esse projeto. A história da minha vida ainda está sendo escrita, e os próximos capítulos serão decisivos.
No último passeio ciclístico que participei, com o pessoal do Corujaqueira, tive oportunidade de refletir, durante os 32 km que percorremos entre o Recife e Olinda, sobre o estágio atual da minha existência. Estou em processo de preparação, tenho que voltar a estar no controle da minha vida, ainda que esse controle seja superficial.
Sinto-me como que embarcado num veleiro oceânico, numa travessia solitária, onde tenho muitas tarefas, todas são igualmente importantes, e a falta de uma delas pode interferir diretamente no curso e no êxito da viagem. Não basta segurar o leme se as velas não forem caçadas, não basta escolher o destino se a rota não for traçada. E o mais importante, tem que ter vento, sem ele o veleiro fica parado.
O vento é o elemento externo ao meu controle, são as intercorrências da vida, é com isso que tenho que lidar, improvisando sempre, adequando ao contexto o meu caminhar.
Depois de pedalar por tanto tempo eu tive uma noite de sono gratificante, acordei disposto, com vontade de jogar fora o marasmo e a preguiça, melhorar minha alimentação, cuidar da aparência. São reflexos diretos da injeção de endorfina a que fui submetido, e eu sou dependente disso, preciso estar em atividade, correr, nadar, sentir o corpo em movimento, sentir o acelerar do coração, perceber a respiração, vencer a dor, vencer os limites.
Meu coração está em compasso de espera, minha mente está alerta, estou certo do rumo a ser tomado, só tenho que esperar que os ventos sejam bons, e devo estar preparado para manobrar bem o barco.
Palavras não entendidas
Ah essas palavras escritas...
Melhor não tê-las escrito!
Frias, mortas, impregnadas no papel,
Num texto, fora de contexto!
Há um caminho a ser trilhado,
Um desafio a ser vencido,
Uma história a ser escrita,
Uma vida a ser compartilhada.
Sem você não haverá caminho,
Vitória, história, nem mesmo vida!
Recife -16 de julho de 1999