30.6.05

O caminho

(Akido - 1º Encontro Internacional de BUDO - Maracaípe/PE - foto Album do Orkut de Dêka Madeira)

Hoje estou de ressaca, o dia de ontem foi intenso, estou diante de minha imagem refletida no espelho, o espelho da minha consciência. O momento atual é de preparo, sinto-me como nos tempos do remo em Brasília quando estávamos treinando para uma competição, o período que antecede a disputa é de muita ansiedade, tudo é feito no sentido da competição, alimentação, condicionamento físico, mental e aprimoramento da técnica.

Este ano será de preparação, tudo que faço está diretamente relacionado com o próximo ano, e isso cria um estado de grande ansiedade. Ter que fazer hoje na expectativa de ver o resultado amanhã é uma experiência que exige paciência. Logo eu que sou impaciente, ansioso, agitado. Às vezes fico observando o meu professor de Aikido, seus gestos largos, sua cadência, seu equilíbrio, percebo que existe harmonia naquilo que ele faz, talvez seja a influência da filosofia Zen.

Estou em compasso de espera, tenho que sobreviver a este ano, concluir o que comecei, finalizar esse projeto. A história da minha vida ainda está sendo escrita, e os próximos capítulos serão decisivos.

No último passeio ciclístico que participei, com o pessoal do Corujaqueira, tive oportunidade de refletir, durante os 32 km que percorremos entre o Recife e Olinda, sobre o estágio atual da minha existência. Estou em processo de preparação, tenho que voltar a estar no controle da minha vida, ainda que esse controle seja superficial.

Sinto-me como que embarcado num veleiro oceânico, numa travessia solitária, onde tenho muitas tarefas, todas são igualmente importantes, e a falta de uma delas pode interferir diretamente no curso e no êxito da viagem. Não basta segurar o leme se as velas não forem caçadas, não basta escolher o destino se a rota não for traçada. E o mais importante, tem que ter vento, sem ele o veleiro fica parado.

O vento é o elemento externo ao meu controle, são as intercorrências da vida, é com isso que tenho que lidar, improvisando sempre, adequando ao contexto o meu caminhar.

Depois de pedalar por tanto tempo eu tive uma noite de sono gratificante, acordei disposto, com vontade de jogar fora o marasmo e a preguiça, melhorar minha alimentação, cuidar da aparência. São reflexos diretos da injeção de endorfina a que fui submetido, e eu sou dependente disso, preciso estar em atividade, correr, nadar, sentir o corpo em movimento, sentir o acelerar do coração, perceber a respiração, vencer a dor, vencer os limites.

Meu coração está em compasso de espera, minha mente está alerta, estou certo do rumo a ser tomado, só tenho que esperar que os ventos sejam bons, e devo estar preparado para manobrar bem o barco.


Palavras não entendidas

Ah essas palavras escritas...
Melhor não tê-las escrito!
Frias, mortas, impregnadas no papel,
Num texto, fora de contexto!

Há um caminho a ser trilhado,
Um desafio a ser vencido,
Uma história a ser escrita,
Uma vida a ser compartilhada.

Sem você não haverá caminho,
Vitória, história, nem mesmo vida!


Recife -16 de julho de 1999

26.6.05

Classificados

(foto tirada do site olhares.com - autor Galeno Garbe)


Estou pensando seriamente em colocar um anúncio nos classificados do Diário de Pernambuco e do Jornal do Commércio com os seguintes dizeres:

Precisa-se de um amor

Precisa-se de um amor
Que me ame para sempre
Que seja carinhoso,
Companheiro e paciente
Que me entenda como sou,
Que leia minha mente.

Precisa-se de um amor
Incondicional, inteiro
Que não seja inconstante
Fútil ou passageiro
Que sorria com meu riso
Se excite com meu cheiro.

Precisa-se de um amor
Que não seja mesquinho
Que não pense em si mesmo
E nunca me deixe sozinho
Que esteja sempre por perto
E me faça muito carinho.

Precisa-se de um amor
Puro e verdadeiro
Que seja como for
Será sempre companheiro
Ainda que seja na dor
Terei esse amor por inteiro.


Recife, 2005.

Lembranças dos tempos que não voltam mais

Eu vivi muitas vidas, e cada uma delas intensamente, quando era um menino vivi a vida de menino. Recordo-me da minha infância agora distante, a vida era simples longe das preocupações dos adultos. As imagens passam diante de mim como um filme em preto e branco.

Brincávamos de bola de gude, Soltar papagaio, que no sul era empinar a pipa, polícia pega ladrão, garrafão, barra-bandeira, queimado, esconde-esconde ou 31 alerta, alguém contava enquanto todos se escondiam, havia a “mancha” lugar onde quem tocasse antes de ser tocado obteria imunidade, e cada um tentava bater na mancha (eu adorava ficar escondido e ser o último para a batida-salve-todos, era o meu momento de herói) e jogávamos futebol com bola dente-de-leite.

Tínhamos grandes espaços verdes para brincar, lembro do areial na Estância, da mata em Camaragibe, das ruas de areia em Olinda, tudo era motivo para uma brincadeira, uma aventura, uma descoberta. Nos armávamos de estilingue e partíamos para desbravar aquele mundo.

Eu acreditava em heróis e em monstros, bicho-papão, papa-fígado, que nós chamávamos papa-figo, e tinha medo do velho do saco que carregava as crianças desobedientes.

Tudo era fantástico e mágico, a noite tinha algo especial, uma sensação de descoberta, e eu me reunia aos outros, depois do jantar, de banho tomado e cheiroso, para as brincadeiras com as meninas.

As famílias moravam em bairros residenciais, não se ouvia falar em violência urbana, as calçadas eram tomadas pelos adultos que jogavam dominó, dama, baralho enquanto as mulheres colocavam as fofocas em dia.

E no sábado a noite tinha O homem de seis milhões de dólares, e todos queríamos ser o homem biônico com sua força e poder. Eu adorava ler gibi, Tio Patinhas e toda a sua turma, Homem Aranha, Batman, Fantasma e tantos outros.

Do sul do país vinham às novelas, as gírias e algumas canções, mas nós tínhamos nossos ídolos locais, Reginaldo Rossi, Fernando Mendes e aquela música que depois fez sucesso no sul “agora que faço eu da vida sem você...”, era um tempo de clara divisão do Brasil em norte e sul.

Era um tempo de sonhos e muitos dos que viveram esse tempo nunca acordaram. Ouvíamos rumores de guerra, os comunistas estavam sendo rechaçados pelo exército, tinha os seqüestros e todos temiam a polícia, mas nós nada entendíamos e seguíamos em frente na rotina diária de escola, brincadeiras e televisão.
Recife, 2005.
O Sonhador e o Poeta

Vai poeta, vai ao encontro do horizonte,
Vai até o arco-íris,
São tuas todas as cores,
São tuas todas as flores do campo,
Fui eu que te dei,
Todas para te alegrar.
Vai em direção ao mar no teu veleiro de sonhos,
E sonha, e chora, e rir, e ama, e vive, e seja feliz poeta,
Porque eu guardei toda a felicidade que você procura para te dar,
Vai poeta, olha o pôr-do-sol,
Lembra, ele é teu, eu te dei só para te ver feliz...

25.6.05

Opinião

O texto a seguir foi postado numa comunidade do Orkut, de nome Viva Lula, da qual faço parte, em resposta a um tópico intitulado “O PT MORREU” que dizia “Você sabia que Teremos uma grande passeata neste domingo em diferentes pontos do país para mostrar que o povo não agüenta mais essa roubalheira...”.


500 anos de história x 2 anos de governo

Tenho vivido perto do poder por toda a minha vida, morei em Brasília e convivi com filhos de políticos na minha juventude, fui militar na ditadura, trabalhei no poder executivo estadual, exerci cargo de confiança. Portanto, hoje aos 42 anos, não me surpreendo com as notícias "alarmantes de corrupção", não que eu tolere a corrupção, afinal é o alto grau de corrupção do nosso amado Brasil que entrava o nosso desenvolvimento, tanto no campo social quanto no econômico. O que não me causa surpresa é que esta, hoje noticiada, prática deplorável de compra de parlamentares pela força do capital existe desde sempre em nossa sociedade e nunca foi causa de tamanha indignação. Viva o governo Lula que foi capaz de permitir a exposição da ferida, ainda que em seu próprio corpo. Não se trata uma doença fingindo que ela inexiste. Há corrupção sim. Mas há um imenso interesse de por fim a ela.

O Partido dos Trabalhadores é formado por pessoas, igualmente como o PFL, PSDB, PMDB, PTB, PL e todos os outros. O ser humano é passível de falhas de caráter. Todavia o PT tem uma ideologia partidária e está não se confunde com seus membros, ainda que sejam eles que em algum momento definam essa ideologia. Concordo que o momento é propício à reflexão. Creio que teremos que nos desnudar da mesquinhez de olhar para o próprio umbigo, para olharmos em volta de nossa sociedade, há tanto por fazer, tanto a construir e cada um temos um papel importante nessa construção.

Hoje estamos no poder, digo o PT, amanhã será o PFL? PMDB? PSDB? PSB? O importante é que o processo democrático tenha continuidade, a construção desse país está em nossas mãos, esquerda e direita, mas para isso precisamos aprender sobre tolerância. O amigo que criou o tópico certamente sentiu um imenso prazer em fazê-lo, fui um ato de pura cartase. Todavia deixando de lado o nosso umbigo devemos entender que graças ao PT hoje se noticia a corrupção que infecta nossa sociedade há tanto tempo. Graças a capacidade de auto-crítica do PT a Polícia Federal não foi proibida de investigar, a impressa não sofreu pressão ao noticiar e o debate está instalado. Mas para o debate há o pressuposto da dialética e está não é conhecida de muitos, inclusive do nosso companheiro autor do tópico. Por fim eu reafirmo meu compromisso de cidadão na construção de um Brasil digno para as gerações futuras, e a historia julgará a todos nós que de alguma forma estamos inseridos nesse contexto. Viva Lula, Viva o PT, Viva a DEMOCRACIA.

Recife 16 de junho de 2005.

24.6.05

Soneto da Cumplicidade


Como um rio que corre para o mar
Paciente, segue em seu destino,
Esse amor que agora em desatino
Insiste em sonhos compartilhar.

Sonhos às vezes malfadados
Desejos por vezes corrompidos
Amores que surgem comprometidos
Com a sina de tornarem-se passado

Sem nunca no presente terem existido
E por terem esse caminho trilhado
Vejo nas palavras de agravo

E agora estampado em teu rosto
O indisfarçável desconforto
De tua tão clara cumplicidade.

Olinda - 15 de Outubro de 1999

21.6.05

Consequências

Estou pensando sobre isso, tudo é uma questão de estarmos ou não preparados para o que poderá advir de nossas ações ou omissões, o gesto brusco pode trazer consigo a violência, o sorriso pode trazer a tolerância, e disso nós precisamos. Ainda não disse o que me inquieta, mas por hora é isto.
Ser Feliz

Felicidade é sorrir para a vida
É permitir-se um momento de puro êxtase
Por pequenas coisas que nos acontecem
E que às vezes não percebemos,
Estão sempre a nossa volta.
Um olhar que nos descobre,
O aperto de mão caloroso de um amigo.
O sorriso do estranho que agradece a nossa atenção,
Um lindo pôr-do-sol,
A chuva caindo do telhado,
Um pássaro,
Uma flor...
Como é bom parar vez em quando
E notar o que se passa pertinho da gente...
E então sorrir destes momentos, e ser feliz.
Recife 1998

19.6.05

Um bilhete

Escrito num pequeno pedaço de papel, num idioma que eu não compreendia. O papel ficou amarelo, a tinta azul perdeu o tom, algumas letras ficaram ilegíveis, e nós já não somos mais os mesmos.

“All the days are long night, when I don’t see you
And all the night are long days, when I dream off you”
William Shakespeare
Got you on my mind... Brasília, 1980.
O melhor lugar para guardar um tesouro é dentro do coração, pois nem o tempo nem as intempéries da vida são capazes de corroê-lo, uma amizade, um amor, um ente querido, é no coração que se operam os milagres da vida. Hoje encontrei uma amiga, alguém muito especial, a minha primeira musa, o meu primeiro amor, fiz para ela muitas poesias, quase todas se perderam, uma ficou, e hoje tive a alegria de saber que 21 anos depois finalmente ela leu.

Ainda sinto no peito a mesma emoção de quando a encontrava pelos cantos da cidade, cada encontro fazia aquecer o coração, ela não entendia, em sua mente havia a nítida impressão de que me magoou, não sabe ela que nenhuma mágoa restou, só a lembrança do seu sorriso, como era doce aquele sorriso.

17.6.05

Um conto

Este conto foi escrito tendo como motivação um concurso realizado pela revista Playboy nos anos 80, não tenho certeza da data exata em que foi escrito, recordo que era assinante da revista e vendo a promoção fiquei entusiasmado, lembro que o prêmio tinha algo como a publicação do conto vencedor na revista e algo mais, como desde a minha adolescência tinha guardado em segredo a vontade de tornar-me um escritor achei propício o momento. Escrevi este texto durante uma madrugada de muita ansiedade, foi tudo muito rápido, como na maioria dos textos que escrevo, algo me impulsiona, as idéias fervilham na minha mente, e neste caos de impressões consigo extrair algo que, ao menos para mim, faz sentido. Nunca enviei à redação da revista, como sempre algo me impediu, talvez medo de ter aquilo que buscava, talvez medo de não ter o talento que imaginava, certamente foi o medo que me impediu. Hoje não tenho mais medo de me expor. Por isso estou aqui, ainda que ninguém venha a este lugar, há sempre a possibilidade de que alguém leia e goste. O que me motiva é a expectativa de ser lido, não escrevo para mim sobre o mundo, escrevo de mim para o mundo.

A Maratona


Enfim conseguira chegar, seu coração batia em disparada, suas pernas já não lhe obedeciam à vontade de aumentar o ritmo das passadas, seu corpo apresentava os sinais de cansaço e fadiga, a dor era a sua mais presente companhia, seus passos largos e ritmados prosseguiam e insistiam em levá-lo à frente, eram quase duas horas de corrida, e faltava pouco para a linha de chegada, sua mente lutava para manter-se distante de tudo aquilo, da dor, da ansiedade, da expectativa dos adversários, seus pensamentos o levavam a lugares distantes, momentos vividos no passado, alegrias experimentadas.

Houve um tempo em que ele não passava de um garoto franzino, assustado e frágil, seus olhos sempre curiosos a tudo observavam, como um animalzinho que saído da proteção de sua mãe procura entender o mundo que o cerca. De sua infância não trazia boas lembranças, seu pai morrera quando ainda era muito criança e sua mãe, ocupada com a tarefa de prover-lhe alimento e moradia, não encontrava tempo nem mesmo disposição para transmitir-lhe segurança, autoconfiança, amor próprio, enfim para formar-lhe um caráter de vencedor.

Mas contra todas as expectativas ele tornara-se um vencedor, sua luta começara logo nos primeiros dias de escola, teve que se adaptar ao novo ambiente, compreender as regras, formar o seu clã. Contra a força usava a simpatia, contra a rejeição a persistência, era como as águas de um pequeno riacho que no seu curso ao encontrar uma pedra, se não consegue vence-la contorna-a. Aprendera a conquistar as pessoas, a sorrir sempre, ser gentil e estar sempre disposto a ouvir. Dos fortes tornou-se aliado, dos fracos amigo, dos poderosos parceiro e dos perigosos manteve-se distante. Logo cedo encontrou no esporte uma boa saída para tirá-lo do mundo que o perseguia, não aceitava a possibilidade de tornar-se um mais um rosto na multidão, um ser autômato que repetiria sua rotina diária dentro de uma vida monótona, sem brilho ou esplendor. Não ele queira mais, sonhara em ser um vencedor no que viesse a fazer, buscaria o olimpo, seu lugar seria na galeria da fama reservada para os que romperam as barreiras impostas pela vida e conseguiram ir além dos seus limites.

Sua adolescência fora marcada pela busca desse caminho, primeiro o futebol, mas logo percebeu não ser este o seu melhor talento, investiu no remo, e durante os treinamentos físicos percebeu que podia correr mais e por mais tempo que a maioria dos atletas que conhecia, foi então quando decidiu ser um maratonista, apesar de sua pouca idade, 25 anos, já encontrara o caminho do sucesso, e depois de vencer muitas corridas que serviriam de acesso ao lugar mais alto da categoria, conseguira ser convocado para as olimpíadas. Agora era chegado o momento esperado por toda a sua vida, era o dia da glória, o chegar aos céus, o sentir-se pleno de felicidade por vencer ao seu maior desafio de vida, que era ultrapassar o seu limite.

Mas os pensamentos foram embora, suas pernas tornaram-se pesadas, era como ter sobre si o dobro do seu peso, cada passada era-lhe muito cara, o suor escorria-lhe pelo rosto e pingava em seus olhos, a respiração tornava-se mais curta, seus pulmões reclamavam-lhe mais oxigênio, sua mente já não lhe servia de alento e fuga para a dor, foi quando percebeu estar no último quilometro da corrida, olhou pra traz e observou que sua liderança agora estava sendo ameaçada, aquele seria o quilometro mais difícil de percorrer de toda a sua vida, forçou um pouco mais ao sentir que seu adversário havia se aproximado, apenas alguns metros os separavam, ouviu os gritos desordenados das pessoas que assistiam ao duelo final, agora eram apenas os últimos quinhentos metros, soltou as pernas, seus braços como que no intuito de fazer-lhe voar moviam-se freneticamente num ritmo alucinante, a boca seca, aberta em busca de mais uma porção de ar, os olhos arregalados, fitando a linha de chegada, os ouvidos atentos às passadas de seu oponente, que agora estava lado a lado, e num último e desesperado esforço em busca da linha de chegada esticou o corpo como um pato que numa corrida frenética para alçar vôo projeta-se para frente em busca do céu. Então o sinal abriu, as buzinas dos carros parados no semáforo o acordaram de seu sonho, olhou meio assustado para o retrovisor, pisou na embreagem, trocou a marcha e seguiu em frente para mais um dia monótono de trabalho.
Como é bom encontrar alguém

Quero um dia de luta por vez,
Uma tarefa que não seja impossível,
Um sorriso que não seja traiçoeiro,
Quero um irmão amigo e um amigo irmão,
Ser útil a você,
Estender-te a mão,
Alegrar-te na tristeza,
Estar contigo quando vier a solidão,
Quero acima de tudo ser eu mesmo,
Com minhas fraquezas,
Anseios, medos e defeitos.
E se encontrar alguém que me aceite,
Assim como sou,
Já me darei por feliz.
Recife 1999

13.6.05

Impressões

Saudade

A saudade é uma chama que arde dentro da gente
qual folha, que solta no espaço, vaga ao sabor do vento
fere mais que fogo bravo, ou mordida de serpente
muda o rumo do dia, tira o sossego da gente.

Dias longe se passaram, que a lembrança traz agora
de um céu azul infindo, de parques, ruas de outrora
de um tempo que ficou longe... Dos amigos de uma menina...
Morena como a noite, suave como a brisa.

A vida segue o seu rumo, na estrada do destino
o tempo cavalga a galope, não se detém no caminho
quem quiser viver de lembranças tornar-se-á uma ilha
distante de todo mundo... Cercado de águas frias.
Recife 1984
Crônica do Virtual Bar
Havia um tempo em que antes das festas, teatros, shows, saídas pra namorar, cinema de sábado, reuniam-se às almas aflitas, cansadas, alegres, felizes, em paz para um encontro sagrado, era tudo muito confuso, todos falavam com todos, em aberto ou secretamente, era o falar no ouvido, o gritar para a outra mesa, encontros, desencontros, amizades, brigas, era um lugar concorrido, havia a fila para entrar, e uma vez dentro todos queriam ser da turma até o mais recente visitante se dizia antigo freqüentador, logo vieram às castas, as sociedades secretas, mas ao largo disto tudo se formava uma liga, uma amálgama que unia algumas almas que se identificavam com aquele lugar. Era um tempo de novidades, e o sucesso daquele lugar logo se tornou público e muitos vinham para saber o que se passava ali e que não conseguia acontecer em tantos outros lugares semelhantes espalhados pela grande aldeia global, havia uma aura especial, uma magia que contagiava a todos, era um non sense certamente, mas como explicar o inexplicável? Ali naquele lugar, naquele momento especial, ocorreu um fenômeno social, surgiu uma sociedade etérea na sua concepção material, pela ausência dos corpos, e predominantemente espiritual, uma vez que apenas conhecíamos o que o intelecto nos permitia conhecer de cada um. Este era o Clube do Whisky a maior sala de bate papo da história da Internet brasileira, e que como grandes fenômenos sociais cosmopolitas conheceu o apogeu e o ostracismo, hoje não passa de uma como muitas outras salas de bate papo na Internet, todavia as pessoas que viveram e fizeram parte de sua história guardam consigo a certeza de que fizeram parte de algo indescritível, real, e que jamais passará em suas mentes. A todos que fizeram parte desta história é que dedico esse texto.
Recife 14/05/2005



Crônica de um campeonato

Foram onze longos anos de uma espera insana, o desejo de tê-la crescia a cada desencontro, algumas vezes estiveram tão próximos que se podia sentir o gosto de sua chegada, mas logo vinha uma nova decepção, o sentimento de frustração era intenso, a sensação de abandono, tristeza e desanimo tomava proporções inimagináveis, porém havia sempre um recomeço, uma nova esperança, agora será diferente, faremos tudo de outra maneira, aprendemos com os erros, acertaremos, corrigimos os desvios e então estamos prontos para uma nova tentativa, difícil seria tentar explicar esse renovar de ânimos capaz de fazer sonhar novamente o maior dos desesperançosos e então começava tudo de novo, sonhar, trabalhar, acreditar e esperar que o destino traga uma nova oportunidade do tão esperado encontro. Enfim aconteceu, era uma noite de quinta-feira, dia 11 de julho de 2001, por uma dessas incríveis coincidências o dia em que nos seus 100 anos de existência ele nunca havia perdido um jogo sequer, a noite estava fria, como frias são as noites nubladas do inverno, no coração da nação alvi-rubra o calor era intenso a emoção transbordava no olhar de cada torcedor, jovens que nunca haviam visto seu time ser campeão, outros não tão jovens, mas que haviam esquecido o gosto de uma vitória como essa, e nesse dia às 23:00 o tão ansiado encontro aconteceu, juntas a vitória e a nação timbu firmaram um pacto de andarem sempre perto um do outro, sempre e para sempre, ainda que para sempre não exista.
Recife 12 de julho de 2001.

12.6.05

O que é o homem, como ele é formado?

As respostas eu não sei, as perguntas eu as conheço bem.

Tem dias em que estamos diante de nós mesmos e não gostamos do que vemos, do que somos, mas afinal o que somos senão um apanhado de nossas escolhas, entre as alternativas que estiveram ao nosso alcance. Então não é uma questão de escolhas, mas de oportunidades, de onde nascemos, de como nascemos, e de como somos criados, somos fruto do meio, e reagimos a este de acordo com as ferramentas de que dispomos, as que estão ao nosso alcance, ao alcance de nossa capacidade de perceber conforme fomos construídos. O homem é um projeto e seu resultado dependerá dos elementos que lhe compõem. Mas então onde fica aquele impulso inexplicável que nos faz ir contra o nosso destino, o plano a que fomos submetidos? Nisto vemos a essência do ser, algo inexplicável, que cada um carrega consigo, que não advém do meio, ou da genética, é o sopro de Deus que nos toca, dando a cada um instintos com os quais podemos mudar nossa história, lutando contra as evidências, indo de encontro àquilo que seria esperado de nós, rompendo com todas as expectativas, fazendo o inesperado, construindo com ferramentas adaptadas a nossa obra, isto nos diferencia do resto dos animais que povoam a terra, nosso espírito, único e que nos une ao Criador.

Dia dos Namorados

A cidade dorme, diante de mim o rio, o porto, as pontes, ruas desertas, como deserto está meu coração. Silêncio... e ao longe as luzes da madrugada, uma praia, nos dois, o barulho do mar, o vento no rosto, reminiscências de um tempo que não vai longe, hoje não consigo escrever o que sinto, apenas palavras desconexas, flashes de uma vida, tantas alegrias, beijos, desejos, nossos corpos não se tocam mais, tua boca, ainda sinto o gosto do teu beijo, aquele beijo de adeus. Agora o vazio e o silêncio da tua ausência, por fim a certeza de que acabou.





Sonho de um amor

Sonho em amar-te desesperadamente
Ver-te ao longo do caminho
Ter-te sempre em minha mente
E por assim sonhar jamais ficar sozinho.

Sonho em beijar-te a boca suavemente
E te olhar nos olhos, e te tocar a pele.
E te aperta nos braços e assim de repente
Sentir arrepiar do corpo todo pêlo.

Sonho como uma criança, e inocentemente
Desejo em vão tocar o inatingível
E ter em mim o teu amor eternamente.

Sonho então este sonho incrível!
No entanto em pranto, creio firmemente,
Que não te amar assim seria impossível.


Recife 03 de julho de 1999

9.6.05

Paz

Tenho pensado sobre o significado desta palavra, saudação para judeus e cristãos na forma shalom, a paz do Senhor, é certamente de difícil conceituação ou definição, alguns de forma simplista dizem ser a ausência de guerra, outros sustentam a idéia do autoconhecimento. Paz é um estado de espírito, imagino que é na presença do Senhor Deus que encontramos a paz, pois nisso temos a plenitude. Lembro de uma estória de quando eu era criança, havia uma forte inquietação logo após a segunda guerra mundial e um fidalgo senhor resolveu criar um concurso com vultuoso prêmio em dinheiro para o vencedor, instituindo como tarefa que fosse apresentado um trabalho artístico que melhor exprimisse o significado da palavra PAZ. Em meio a muitos trabalhos apresentados, entre poesias, óperas, sinfonias, esculturas e quadros o vencedor foi escolhido. Na apresentação ao público alguns repórteres ao ver o quadro ficaram perplexos, era a cena de uma tempestade terrível, ventos de destruição, relâmpagos, nuvens carregadas, e em meio a todo o caos e terror percebia-se num galho de árvore um solitário pássaro que dormia alheio a tudo aquilo. Talvez esta seja uma boa definição, paz é estar-se seguro, calmo, sereno e tranqüilo, não importando o que ocorre a sua volta, pela certeza de salvação.



Contemplação

Um homem sentado à beira do caminho...
Uma folha seca que cai...
Um vento nordeste que sopra ligeiro...
Um cão...
Uma estrada...
E o homem a tudo observa...
Sentado à beira do caminho
.
Olinda 1999

8.6.05

Supernova de Kepler


Três grandes observatórios espaciais, Hubble, Spitzer e Chandra, trabalharam em conjunto para obter essa grandiosa imagem da explosão (morte) de uma estrela, que pode ter sido vista da Terra há 400 anos.


Retrospectiva

Nascer, e sem explicação viver,
Aceitar a dor, respirar
e sentir queimar o peito e gritar,
Então sentir o carinho de quem me amou primeiro,
Deitado em seu peito ouvir o som das batidas do seu coração,
Sentir-se seguro...
Então crescer e aprender da vida o que a vida dá...
Sofrer, sorrir, sonhar, amar e então odiar,
E descobrir que o certo é incerto e a verdade subjetiva...
Envelhecer e entender os sonhos e saber que nenhuma dor dura para sempre,
Nenhuma verdade é absoluta, e que tudo passa...
E um dia então morrer.

Recife 2001

7.6.05

De onde eu vim





Não sou quem pensas ser eu...
sou apenas mais um rosto na multidão.
Sou daqui, sou de lá
Tenho estado em muitos lugares
E em nenhum deles achei descanso.
Sou de Recife,
Das pontes do Capibaribe e Beberibe,
Das ruas de minha infância
Dos parques onde vivi.
Sou da terra da saudade,
Dos homens simples
Da gente que ri quando passa na rua,
Sou das noites de ciranda,
Das feiras livres,
Da cana de açúcar,
Do sapoti...
Das praias de mar azul turquesa,
Das ruas tomadas por pés de oiti,
Sou de Pernambuco orgulho da minha vida!

Olinda 1998