31.8.05

Manoel Bandeira

(Foto do Recife de Manoel Bandeira)

Evocação do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
E partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
Na ponta do nariz

Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
Mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

À distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)

De repente
Nos longos da noite
Um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de Dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...Onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...Onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo

Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento

Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
Os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas

E eu me deitei no colo da menina e ela começou
A passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe

Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
Que se chamava midubim e não era torrado era cozido

Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca

Foi há muito tempo...

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada

A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam

Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...

Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade

Recife...

Meu avô morto.

Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
Como a casa de meu avô.

29.8.05

Elisabete Priedols

(Foto do amanhecer hoje às 5:45)


Este poeminha é da minha amada amiga Bete, a dona do InfinitLoop, ela é a responsável por eu estar aqui na Internet expondo minhas tristezas, alegrias, poesia, idéias, pensamentos e impressões, foi um dia, que não sei dizer quando nem porque, que eu entrando no seu blog fiquei uma tarde inteira lendo até que chegou a noite e eu continuava ali, diante de tanta emoção, tanta vida que sem perceber meus olhos transbordaram, amei o que vi e como vi. Então um dia pedi de presente de aniversário que ela me desse um blog, sendo ela uma moça muito ocupada imaginei que meu pedido seria inviável, mas aguardei como um menino que já crescido teima em esperar pelo Papai Noel na noite de Natal. Não é que Papai Noel existe. Hoje eu posso trazer um pedacinho do InfinitLoop para dentro do Sede de Expressão, é o criador visitando a criação. (Observação: As letrinhas estão nesta cor em homenagem a Bete, não tem nada a ver comigo, eu gosto é de azul.)

~VIVE PLENAMENTE~

Vive plenamente
Quem tem sempre um ar risonho
E corre em busca de um sonho
Que um dia irá realizar

Vive plenamente
Quem investe em novidade
E aproveita oportunidade
Da felicidade encontrar

Vive plenamente
Quem não se deixa intimidar
E dá autorização
Para o amor se aproximar

Vive plenamente
Quem se desdobra pra encontrar
Percorrendo qualquer distância
Quando a saudade apertar

Vive plenamente
Quem não dá bola à traição
Não dá ouvidos aos boatos
E só escuta o coração

Vive plenamente
Quem tem encontro marcado
E apesar de muito ocupado
Não deixa de aparecer

Vive plenamente
Quem dribla a dificuldade
Atropela a impossibilidade
Pra sua vontade satisfazer

Vive plenamente
Quem não vive só de ilusão
Acredita na paixão
E entrega o coração

Vive plenamente
Quem encontra reciprocidade
Num sentimento de verdade
Que a vida teima em proporcionar

Vive plenamente
Quem já sofreu por amor
E mesmo apesar da dor
Não se deixou amargar

Vive plenamente
Quem sorri com os olhos
E aproveita bem a vida
Porque ela é muito rápida
E não pode ser perdida.

28.8.05

Para ler e pensar

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único: O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.
Artigo V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Artigo VI Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.
Artigo XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Artigo XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Artigo Final. Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.
Santiago do Chile, abril de 1964

27.8.05

Uma boa idéia...

(Região da Kashimira)


Sugestão
(Cecília Meireles)

Sede assim... qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar de noite:
sussurrante de silêncios
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino
e à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim, qualquer coisa,
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

26.8.05

Introspecção II

(A imensidão do Cosmo - Somos tão pequenos)

Há momentos em que o melhor a fazer é ouvir em silêncio o que o cosmo tem a dizer. Somos parte de um todo que muitas vezes não compreendemos. Somos menores do que nosso ego tende a indicar. Nossas verdades são tão frágeis que ao menor sinal de enfrentamentos ficamos aflitos.

Tenho observado o comportamento humano, buscando compreender o senso comum quanto a muitos aspectos em que muitas vezes divirjo. Existe na maioria das pessoas a idéia de que temos que ser fortes, seguros, muitas vezes dissimulados. Pergunto-me como podemos assumir tais características como se fosse um gabarito. Somos humanos, e como tal frágeis, não há como ser diferente, basta um sopro para nos derrubar. Como podemos ter tanta segurança sobre tudo se nem ao menos sabemos do nosso mundo. Onde está o alicerce que gera toda essa segurança?

Entendo que devemos ter um comportamento seguro em alguns aspectos da vida, aspectos esses sobre os quais podemos influir. Mas existem coisas que estão fora do nosso controle, podemos até agir com cuidado, dando pequenos passos, mas dificilmente poderemos ter a certeza de que tipo de resultado será obtido, para isto temos apenas a vaga impressão.

Há alguns tópicos atrás abordei algo sobre conseqüências e fiquei de voltar ao tema em outra oportunidade, creio que o momento agora é propício para pensar sobre isto.

Pautamos nossas vidas num modelo de resultados, onde para toda ação previamente estipulada caberá um resultado provável, tido muitas vezes como certo.

Se alguém estuda, obtém uma profissão e trabalha duro no fim terá uma vida estável e bem sucedida. Se você encontra uma pessoa que ama, com quem se identifica, e combinam no projeto de vida, poderá com ela construir uma vida a dois e será feliz. E assim temos o modelo de combinação de elementos para a obtenção de um determinado resultado. Esquecemos então do fato inesperado e improvável, sobre o qual encontramos elementos na Teoria do Caos.

Quando eu era apenas um menino inocente e feliz ganhei um caleidoscópio da minha mãe. Era um tubo de uns vinte centímetros com uma abertura em um dos lados por onde se via as várias figuras formadas pelo simples girar do cubo. Era impressionante como as figuras não obedeciam a uma ordem em sua formação, tudo era aleatório, para mim era mágico, meu tubo mágico tinha vontade própria.

Como criança eu viajava numa insistente curiosidade de como funcionava aquele instrumento em minhas mãos. Até que um dia aconteceu o inevitável, abri o cubo esperando encontrar engrenagens sofisticadas ou dispositivos de encaixe que formariam as figuras. Qual não foi a minha decepção ao constatar que ali dentro havia apenas pequenos fragmentos que diante do espelho assumiam aquelas formas impressionantes.

Hoje vejo a vida como um grande caleidoscópio de fatos que se cruzam para formar um evento para o qual muitas vezes não temos expectativas. Existem certamente fatores que contribuem para a obtenção de certos resultados, todavia nada garante a certeza destes. Afinal temos os imprevistos, os fatos aleatórios, a teoria do caos. Nada é totalmente previsível.

Então há sempre a possibilidade de que o resultado de uma ação nossa seja inesperado. E é neste momento em que temos que aprender a lidar com algo mais complexo do que o nosso tão conhecido binômio causa-efeito. É quando as coisas fogem do nosso “controle” que precisamos compreender que nada é tão simples, que nem sempre existe uma explicação lógica para tudo.

É nesta busca pela explicação lógica, racional, que nos perdemos. Ficamos analisando cada passo dado tentando encontrar o momento em que nos desviamos do “caminho”. Esquecemos que não se pode prever o futuro, ainda que este seja apenas a reação de alguém a um sorriso nosso.

Ao dizer uma palavra ela foge do nosso controle e não podemos prever os resultados. Claro que não, podemos apenas esperar que tudo atenda ao gabarito de previsível, ao menos do aceitável como tal. Mas nunca podemos esquecer do imprevisível, do caleidoscópio de possibilidades.

Por fim vêem as conseqüências, resultado de nossas ações, omissões de nossos atos e palavras, é o saldo de nossos movimentos. Mas o que há de tão impressionante nisto? Nada! Afinal o que pode ser feito a respeito senão aceitar ou reagir ao resultado final de nossos atos. Mas tendo em mente que a flecha lançada passa a ter vida própria depois que sai de nosso controle. Não há como garantir que acertaremos o alvo. Então resta-nos a tranqüilidade de que fizemos tudo conforme nos dispomos, seguramos o arco com firmeza e miramos bem o alvo.



Sobre nós.

Eu quis ser colo e não tribunal,
Refúgio seguro te fazer bem, não mal.
Sarar feridas e não abri-las,
Ter em você a amada amante,
Eterna amiga.

Quis ser sonho e não pesadelo,
Amigo, amante, eternamente...
Companheiro.

Quis ser alegria e não tristeza
Despertar teus melhores sonhos
Provocar a mais pura alegria
Mostrar-te poesia e beleza.

Ser instante, nunca eterno...

E eterno neste instante.


Eu quis ser escolha,
Ser prazer.
Não culpa.

Se assim não foi
Então,
Só me resta dizer
Perdão...
Desculpa!

Recife 25.08.2005

25.8.05

Introspecção

(Foto da Lua - Discovery - NASA)




Nestes dias de chuva e frio o melhor é ficar quieto.

Um dia de muita tensão, muitos interesses envolvidos, julgamento no Tribunal de Justiça, lá estou eu correndo atrás do Desembargador, falando com o assessor, pendido prioridade ao presidente da Câmara. Durante o julgamento uma cena interessante, um jovem advogado requereu sustentação oral.

O rapaz era um típico nordestino oriundo de uma cidadezinha do interior, suas vestes e o jeito brejeiro o denunciavam. Ao pedir a palavra o fez sem obedecer ao rito solene que é próprio da corte maior do estado. Houve um mal estar geral até que o assistente de plenário solicitou do causídico que se colocasse de pé, vestisse a beca sobre os ombros e tomasse lugar na tribuna.

Todos estávamos tomados de extremo desconforto por aquele inconveniente em tão solene lugar. Mas ao começar seu discurso o acanhado rapaz revelou-se admirável orador, sua voz ainda que inicialmente vacilante, assumiu um tom seguro e forte, suas palavras sempre apropriadas a todos impressionou, a cultura demonstrada em suas citações, todas sem auxílio de escritos, confirma a impressão de todos, ali estava um advogado.

No fim da sessão saí frustrado por não ter conseguido ver julgado o meu processo, ficou para a segunda semana de setembro, mas em setembro eu volto, ah se volto.

A volta para casa foi andando, moro muito próximo ao Tribunal de Justiça. Fim de tarde, uma chuva fina, um clima agradável era um convite à reflexão, liguei o aparelho de MP3 e segui lentamente pela rua. Praça da República, Palácio da Justiça, Teatro de Santa Isabel, Palácio das Princesas, um largo de delicada beleza, construções em estilo neoclássico, uma praça arborizada com um belo e extenso jardim, árvores centenárias, estátuas gregas e de personalidades da história pernambucana.

A ponte, o rio e ao longe o encontro do rio com o mar, e mais longe Olinda, como é linda a cidade das sete colinas, seu casario preservado, o sítio histórico composto de igrejas centenárias, ruas estreitas feitas com pedras vindas de Portugal e unidas com betume de óleo de baleia. Há tanta poesia em suas ladeiras, repletas de ateliês, restaurantes, centros culturais e algumas residências. Ainda irei morar neste lugar.

Enquanto eu no meu caminho de volta ao lar ouvia música, à cidade corria em meio à chuva e congestionamento. Passos lentos e firmes, corpo relaxado, alma leve e um olhar distante, assim seguia o homem de paletó, a pé, com as mãos no bolso. Quem me olhava certamente pensava, ali vai alguém despreocupado com a vida. Ledo engano, enquanto a música conduzia meus passos, a mente viajava entre encontros, desencontros, monografia, formatura, mestrado, dívidas, saúde, expectativas que me visitam diariamente.

Um perfume persiste em me acompanhar, resolvi parar numa perfumaria que ficava no caminho e pedi a vendedora, Paloma Picasso. Um vidro pequeno R$ 126,00, sorri e me contentei com a fita de papelão imersa no perfume. Que fragrância aquela! Como um cheiro pode nos transportar a um determinado momento que ficou gravado na alma.

Senti-me um privilegiado por ter tão boas lembranças a recordar. Não importa o que virá, o que houve foi muito bom, e tem sua importância restrita a mim, penso então nas palavras do poeta Vinícius de Moraes – Que não seja eterno, posto que é chama, mas infinito enquanto dure – é exatamente isto que penso.

Quero deixar uma marca tão profunda que nem o tempo ou a distância possa apagar, pois que seja infinito enquanto dure. Mas isto é difícil de explicar, as palavras tendem a seguir o espírito de quem as lêem. Um espírito aflito tenderá quase sempre a afligir-se mais ao ler os sinais que o cercam. Verá no detalhe complementar o âmago da questão, fará do aposto o núcleo da oração.

Em casa a chuva está me matando, fico muito melancólico quando chove e o tempo esfria, tenho carência de uma enzima que é liberada pela exposição ao sol, agora não lembro o nome. Fico lento, sonolento, preguiçoso, as idéias não fluem. E o pior é que meu quarto está minando água da parede. Tudo está muito úmido.

O dia está terminando bem, amanhã será um dia melhor, estou ansioso para iniciar o curso de pára-quedismo falei com Samuca, do Grupo Gravidade, e estou aguardando que o avião seja consertado para iniciar as aulas, serão dez horas de teoria e um salto solo, saltarei orientado por um rádio de comunicação, o instrutor saltará simultaneamente, mas terei que realizar todos os procedimentos de navegação e pouso sozinho, depois serão dezesete salto para obter o Brevê. O coração dispara só de imaginar, mas eu mereço esse prazer.

Tive notícias de Cristiane, ela está bem em Brasília, passou em outro concurso, desta vez foi de Agente Penitenciário Federal. Essa moça vai longe, sinto falta dela. Lembro de sua imagem sempre sorridente, a pele branca, cabelos longos e castanhos, e o corpo sedutor, mas o que eu, mas sinto falta dela é o seu jeito de menina e as TATOO das pegadinhas e do Perna Longa deitado comendo uma cenourinha. E sinto falta do seu amor, carinho, atenção... Não queria que acabasse, mas nosso amor passou como uma chuva de verão. Mas eu ainda a amo.

“Olá velhinho!”

Amor distante

Amo-te ainda que distante estejas
E dos meus olhos tua imagem fuja
E em sonho, quando assim me beijas
De desejo nossas bocas ficam mudas.

Amo-te quando em desespero encontro
O coração que amo, a pulsar por outro
E nesse triste instante de vil confronto
Fecho os olhos, e em silêncio sofro.

Amo-te, mesmo que no desencontro
De nossas almas gêmeas, esteja o fim
Desse amor que vive a buscar teu beijo

E se te amar assim for o meu destino
Guardarei esse amor que arde em mim
E seguirei em busca de um novo caminho

24.8.05

Aprendizado e Experiências

Vicent Van Gogh o pintor de sóis silenciosos e girassóis de ouro, hoje cultuado e considerado um dos maiores pintores impressionistas, tem assento na galeria dos mestres das artes de todos os tempos. Em vida nunca obteve o reconhecimento de seu talento, só teve um único quadro vendido, sua arte era vista como incompreensível e intolerável. Hoje suas obras alcançam cifras absurdas, seu talento é admirado, sua vida estudada. Só mesmo o tempo é capaz de tamanhas transformações, aqueles que outrora o desdenhavam hoje o adorariam e nisto está a ação do tempo.

O tempo de ontem

O tempo é o meu aliado,

Companheiro camarada
Presença constante

Nesta longa caminhada.

Testemunha em silêncio:
Minha vida
Meus sonhos
Meus erros

Meus acertos
Minhas paixões...


Pode o homem mudar um detalhe de seu passado?

Contudo o futuro ainda está por acontecer
E o agora pode fazer a diferença.


Então tomarei o leme do meu veleiro de sonhos
[e sonharei]
Caçarei a vela mestra, soltarei a buja da paixão

[e navegarei]

Seguirei então ao encontro do amanhã ao sabor do vento
Mas sempre com um sorriso certo
E o coração aberto
A quem eu possa amar...

Recife, 24.08.2005

23.8.05

Desejos



Soneto da Despedida

Se eu falar do meu amor
Não vou dizer que pereceu
Que esse amor não mereceu
O meu sonhar, a minha dor.

Não chorarei por esse amor
Que de partida está agora
Que me deixou e foi embora
Ficando então o dissabor

Das lembranças do passado
De um beijo tão amargo
Que te dei na despedida

Da imagem de teu rosto
Teu sorriso de desgosto
Nos teus lábios carmesins.



Recife - 20 de Setembro de 2000


22.8.05

O tempo está fechando, vem surgindo uma tempestade.


Fecho os olhos e sinto o mundo em minha volta, não o mundo físico a que estamos adstritos, mas o mundo etéreo fruto de nossos pensamentos, resultado de nossas impressões.

Quem somos? O que somos? O que realmente motiva a nossa razão? São tantas perguntas, tantas teorias para respondê-las, mas o que importa é saber se sou feliz com o que projeto como verdade. Não a verdade absoluta, essa eu desconheço, mas a verdade subjetiva, aquela que se justifica nos meus fundamentos filosóficos. Sejam eles frutos de uma experiência empírica ou de uma teoria aceita por mim como suficiente.

Penso que existo num mundo muito particular, não uma particularidade esquizofrênica, mas sim, como uma forma de perceber os apelos de minha alma. Sinto-me, muitas vezes, como aquele ser inquieto com os paradigmas de seu tempo, que reage a mesmice ortodoxa para encontrar na negação a sua divisa.

Sou como Fernão Capelo Gaivota que não se limita a voar para comer, voa sim para encontrar o inatingível, para vencer os limites, para ir além daquele mar de gaivotas, ainda que isto possa lhe custar a reputação.

Vivo minhas próprias verdades, para muitos tão impróprias, mas sigo nesse caminho sozinho. Não faço discípulos, não busco seguidores, mas tenho certeza, de que como Fernão, não sou o único da espécie, sei que em algum lugar estão reunidos muitos como eu, ainda que separados fisicamente ou até mesmo cronologicamente, muitos iguais a mim viveram nessas terras de nosso planeta azul. Bethoven, Van Gogh, Castro Alves e tantos outros viveram suas próprias realidades, envoltos em solidão, ansiedade, angustia e uma força criadora que os impulsionava a continuar até mesmo quando a surdez, a loucura, a tuberculose e todos os demais obstáculos lhe sobrevinham.

Não! Não quero dizer que sou um gênio como estes a quem me refiro, existem muitos outros que padeceram do mesmo destino e tiveram suas vidas destroçadas pelo insucesso e por toda sorte de desalento. Socorro-me daqueles, entre muitos, gênios incompreendidos em seu tempo, para destacar que meu estilo de vida não é de todo prejudicial ou mesmo improdutivo.

Gosto de andar pelas ruas desertas na madrugada fria, e enquanto caminho, vejo os meus fantasmas a me acompanharem, sigo entre os sonhos que me aprazem e observo tudo o que está em minha volta. Posso ouvir a música guardada em minha mente, ou sentir o beijo que me arrebatou em tempos passados, contemplar a imagem da mulher amada, sentir no corpo o toque de sua mão.

Mas nem por isso posso ser classificado de escravo do passado. Afinal o que é o passado senão o ocorrido ontem e o ontem por vezes está tão perto. Hoje eu eternizo o ontem, mas não deixo de viver novos momentos, apenas me permito alimentar cada momento de prazer fazendo-o maior que o seu tempo. Gosto de sentir novamente o cheiro de um perfume agradável, ainda que nada o exale. Gosto de sentir o gosto de um beijo emocionante, ainda que minha boca não seja tocada. Gosto de viver o êxtase de um amor, ainda que meu corpo esteja só.

Crio mitos, deuses, perfeições só para meu deleite e prazer. Vivo entre Ninfas, Afrodites e belas Vestais, donas de irretocável beleza e irresistível sedução. Creio na perfeição plástica do momento, ainda que os atores deste momento sejam bufões. Faço reais os meus sonhos e deles me alimento para encontrar na realidade algo semelhante.

Todavia quando amo o faço com todos os sentidos, com todo o meu ser em toda a sua plenitude. Vivo intensamente cada momento de minha vida. Entrego-me sem restrições aos instantes de paixão dos quais desfruto. Aceito sem questionamentos os amores que me vêem. Envolvo-me sem culpa com quem amo. Por fim aceito tranqüilamente as conseqüências dos meus atos.

Mas como todo o ser que habita neste mundo, levanto todos os dias e batalho como qualquer mortal pelo pão de cada dia. Trabalho duro e me esforço, submeto-me a todos os processos necessários àqueles que buscam adquirir bens e riquezas, talvez o que me diferencie dos demais seja a minha motivação, luto para poder viver os meus sonhos e não aqueles que sonharam para mim.

Tenho certeza de que nada é de todo mau ou bom, tudo é uma questão de perspectiva. Sou movido à paixão, dela sou dependente, nela me motivo. Paixão pela vida, pelo meu Deus, por mim mesmo, pelos meus sonhos, pelo meu trabalho, pela profissão que abracei, pelo socialismo, pela política, por minha família, pela aviação, pelo mar, pelo sol, pela liberdade, pelo amor de uma mulher.

Viver é uma arte, muitas vezes incompreendida, amar é o sentido da vida.
Viver sem amor é estar morto!
Sinopse de um poema

Sentado à beira do caminho,
Longe de você...
Sozinho,
Perdido em meus pensamentos vou até você.
Sonho em tocar tua pele,
Sonho em estar junto a você,
Sonho...
Um dia um sonho fez-me pensar um soneto,
Hoje sozinho,
Sentado à beira do caminho lembro de você.
(Frederico Pereira - AMT)

21.8.05

Lobos do Mar

(Este lugar é ideal para jogar a âncora)


Hoje o dia começou com ares de ressaca, nublado e cinzento. Acordei cedo na expectativa de aproveitar o dia e me deleitar ao sol jogando tênis. Logo recebi um telefonema que mudou tudo. Do outro lado da linha um amigo me convida para olhar um barco no Cabanga Iate Clube. Eu nem pensei, aceitei o convite e me vesti adequadamente para a ocasião.

O encontro foi divertido, no carro muita música e papo furado, chegamos cedo e o proprietário do barco nos aguardava, homem muito educado, Italiano, lembrava um personagem de La Doce Vita, logo nos apresentou o marinheiro e se despediu indo com a família velejar.

Olhamos tudo no barco, desde o casco, passando pelas acomodações internas, equipamentos, assessórios indo até o motor. Por fim decidimos que não se pode avaliar um veleiro sem colocá-lo na água. Na verdade a idéia de colocar o barco na água foi minha, eu queria aproveitar a oportunidade e veleja um pouco.

Colocamos o barco na água e partimos para um rápido passeio. Verificamos as velas e os mastros, o detalhe é que eu num rompante de irresponsabilidade adolescente me ofereci a subir no mastro principal, nem sei para quê. Num instante eu estava seguro e me divertindo enquanto cassava as velas no convés de proa, no outro eu me percebi no alto do mastro principal olhando não sei o que nas carretilhas de não sei onde. A sensação é de admiração com a visão que se tem de cima e ao mesmo tempo de terror em cair.

Subir foi fácil, terrível foi descer, tanto que fiquei um bom tempo lá em cima imaginando como descer, primeiro pensei em saltar para dentro da água, mas temi errar o salto e bater na borda do barco, depois imaginei em escorregar pelos cabos, mas logo percebi que queimaria a mão. Foi quando o Severino, que não é o presidente da Câmara de Deputados, sugeriu, percebendo o imbróglio em que eu havia me metido, que eu descesse pela escada do mastro central, sem olhar para baixo. O que eu obedeci sem contestar.

Tirando este fato sem maior importância a viagem transcorreu na maior tranqüilidade, até que percebemos que não havíamos “municiado” o barco. Não se pode encostar um veleiro na praia e simplesmente pedir uma cerveja e um peixe na brasa. Estávamos no mar sem ao menos uma garrafa de água mineral. O Severino é claro tinha tudo, para uso dele. Chegamos à conclusão de que teríamos que retornar, pois a sede estava apertando. Dividimos a água do nosso precavido Severino e voltamos ao Clube.

Resultado de uma manhã de velas, sede e fome: é que estou vermelho como um camarão. As costas ardem pelo sol que tomei enquanto fazia as vezes de espia no alto do mastro central. O corpo está todo dolorido de tanto enrolar cabos de velas e correr de um lado para o outro para caçar e soltar vela. Mas no fim chegamos os dois com aquela cara de satisfação, como dois meninos que se cansaram de brincar com o novo brinquedo.

No fim ainda contamos vantagem para um grupo de quatro gaúchas que estavam tentando velejar na saída da barra. Explicamos tudo e ainda fizemos aquela cara de quem sabe tudo. Claro que o “santo” Severino nos dizia o que deveríamos fazer e como orientar as incautas velejadoras. Como eram bonitas aquelas moças. Em um momento, depois de montarmos tudo, olhamos um para o outro e tivemos a certeza de que fomos usados para fazer o trabalho duro. Mas que importância isso pode ter, ao menos fizemos algum exercício físico e tivemos quatro lindas mulheres sorrindo para nós e fazendo com que tivessemos a impressão de que éramos importantes.

No fim ficamos bem na fita, afinal as moças nos convidaram para sairmos com elas, para uma aula sobre os segredos do mar. Eu comentei com meu amigo que elas querem mesmo é economizar com o marinheiro. O que está evidente é precisamos, com muita urgência, aprender algumas lições básicas sobre veleiros com o nosso marinheiro oficial, Comandante Severino, sob o risco de vermos nossa reputação de velhos lobos do mar ir por água, literalmente. É claro que demos uma gorda gratificação ao simpático e discreto marinheiro, que tudo fez para que o nosso dia fosse um sucesso.

Amanhã é segunda-feira e começa a diversão.

20.8.05

Vôo solo

(Motoplanador Ximango - Foto da Internet)


Hoje à noite eu não vou sair de casa, quero estar a sós com minha solidão, quero ouvir o silêncio do meu quarto, quero me perder olhando o horizonte pela janela, quero voar para muito longe. Longe... Segundo Richard Bach é um lugar que não existe.

Fecho os olhos e me sinto na cabine de comando de um monomotor, um vôo noturno, sinto o balanço da aeronave sacudida por um vento de través, corrijo no pedal, inverto e compenso.

Meu Deus como eu necessito voltar a voar, como eu estaria feliz em amanhã poder tomar o comando de um motoplanador Ximango, levantar vôo do aeroclube do Recife e planar no céu de todo o litoral pernambucano. Meus olhos se enchem de lágrimas em pensar que estou preso ao chão, impossibilitado de voar...

Nos céus tudo é silêncio e beleza, contemplação e liberdade. Creio que um homem não poderia passar pela vida sem experimentar essa sensação indescritível de se sentir parte de algo maior que a nossa mísera condição humana, ao voar você transcende a materialidade, experimenta e testemunha a grandeza do Criador e a pequenez da criatura.

Voar é estar em sintonia com Deus, é perceber-se frágil, mas ao mesmo tempo seguro. É como estar nas mãos do Senhor e por Ele ser conduzido, protegido, acalentado. Não consigo encontrar palavras para descrever ou explicar, apenas sei o que sinto, e afirmo que é maior do que minha capacidade intelectual de definir.

Olhar a terra de cima ajuda a perceber como tudo é frágil e temporal. Tudo passa, nada será para sempre, amores, vida, alegrias, tristezas, riqueza, pobreza, beleza tudo um dia acaba. Pode acabar hoje. Então amar o dia de hoje, sorvê-lo lentamente, senti-lo em cada instante é a única coisa que podemos fazer para eternizar o momento.

Hoje eu passei a manhã, ou o que restou dela, lendo os textos de Rubem Alves. Muito interessante, senti-me compartilhando um livro com alguém especial, tentei compreendê-la ao ler um de seus autores favoritos, busquei alguma pista que me leve a conhecer o seu coração, eu sei tão pouco dela.

Gostaria de saber o que se passa em sua mente, confesso que estou perplexo com o fato de estar tão próximo ao seu coração e não conhecê-la. Estou muito envolvido em saber o que se passa em sua mente, às vezes até ansioso. De que vale minha ansiedade? A vida é o que tem de ser e em nada minha ansiedade mudará o rumo das coisas.

Hoje à tarde fui ao cinema, um encontro com minha admiradora secreta, tudo muito tranqüilo, espero que ela tenha gostado de me conhecer pessoalmente. Enquanto a esperava parado em frente à escada rolante do Shopping fui abordado por uma outra jovem que me perguntou se eu esperava alguém, respondi que sim e percebemos que era mais um encontro às escuras. Minha amiga logo chegou, assistimos ao filme, lanchamos e passeamos entre as lojas. Encontrei umas dez pessoas conhecidas, todas ligadas ao meu último relacionamento, o que me fez pensar que sábado no Shopping é programa de muita gente.Então se você quiser se esconder nunca faça isso num Shopping à tarde, ainda bem que esse não era o meu caso.
Encontrei também minha ex-cunhada, há muito não nos víamos, senti de imediato saudade de Cris, já se passaram oito meses, lembrei de quantas vezes fomos ao cinema naquele lugar, e como Cris detestava aquele Shopping. Espero que ela esteja bem em sua nova carreira e na sua nova cidade. Fiquei lembrando o quanto ela odeia lugares frios e que Brasília nesta época está debaixo de chuva e muito frio.

Brasília minha vida está conectada a esta cidade, lá eu fiz meu curso de piloto privado, fui militar, ganhei a primeira de muitas competições de Remo. Ganhei meu primeiro concurso de versos, Medalha comemorativa do edifício sede dos Correios e Telégrafos, o diploma se perdeu, mas a medalha está diante de mim em minha mesa. E foi em BSB que encontrei minha primeira namorada, meu primeiro amor. E como se isto tudo não bastasse Cris está morando lá.

Dizem que o primeiro amor agente nunca esquece. Eu posso afirmar que é verdade. Meu primeiro amor... Tenho escrito sobre ela, mas não posso publicar. Lá fora está chovendo, a lua se escondeu, aqui dentro estou só. E longe, muito longe está ela. O que estará fazendo? Com quem?

Ainda bem que tenho este lugar. Elisabete meu amor mais uma vez obrigado. Por falar em minha ursinha querida eu ando afastado da turma do boteco, sei que estou em dívida com minha querida Elisa. Mas sei que ela me ama o suficiente para compreender meu momento. Quanto ao bar eu ainda vou ficar um tempo longe. É dolorido ouvir tanta coisa sobre o PT. Pouca gente conhece o partido, fala sem saber do que está falando, nós do PT estamos sofrendo a dor mais cruel que um ser humano pode suportar que é a traição. Fomos traídos pelos nossos amados companheiros. Mas este é um assunto que eu abordarei em outro momento, quando tudo estiver mais tranqüilo. Esperarei que todos os envolvidos sejam declarados, todas as provas apresentadas e os culpados punidos. Então me posicionarei sobre tudo, mas que fique claro, desta bandeira eu não arredo. Sou PT.

19.8.05

É aqui onde eu quero chegar.

(Este é o lugar, alé em cima, viu...)

Meu Eldorado

Sonho em uma vida diante do sol.

Hoje eu estive pensando sobre os dias que ainda virão, tenho convicção de que não adianta me preocupar com o futuro, até porque nada garante que haverá um. Quem saberá o dia de amanhã?

Mas como toda pessoa normal eu tenho pautado minha vida em criar condições para usufruir algumas coisas. Viver é assim preparamos o hoje de olho no amanhã.

O que eu quero ter em breve?

Então vamos lá, primeiro onde morar, Olinda é a melhor escolha, a cidade alta, num daqueles casarões da Sé, tenho até o meu objeto de desejo, é uma casa muito charmosa, com vista para o Recife em seus fundos e para o mar de Olinda em sua frente. Tem até um mezanino em madeira onde eu faria o meu quarto, que teria um janelão e um alpendre que se abre para o mar. Imagino acordando num lugar assim, tendo diante de mim a imensidão daquele mar azul turquesa e a noite poderei contemplar a lua e as estrelas. Isso tudo, é claro, ao lado de alguém especial.

Um ambiente especial será a minha casa, uma cozinha toda em aço inox, onde terei o prazer de cozinhar para os amigos e algumas pessoas especiais, e quem sabe para ela? O piso da casa terá uma cerâmica Brenand em tons suaves e material poroso, para pisar descalço em dias de sol, com o vento entrando pelas janelas abertas.A decoração, uma mistura entre o colonial e o moderno, um espaço “clean” privilegiando as paisagens disponíveis do lugar, amplitude e aconchego este binômio estará presente neste lugar. Um lugar para ler e, é claro, muitos livros, poesias, crônicas, literatura em geral, artes, jurídicos e O Livro. Uma rede de renda para namorar. Uma adega para colecionar bons vinhos que serão saboreados em tardes de música e conversas amenas e frutos do mar. O conceito desse lugar é aconchego.

Eu adoro cozinhar, principalmente para uma mulher especial, e então observar a satisfação de quem come, e receber os elogios, é claro. O melhor é tomar um vinho enquanto se cozinha, algo leve, saboroso, sensual. Claro que existe sensualidade nisto, quem duvida pode ter certeza que está perdendo bons momentos à cozinha...

Quero um veleiro, não quero uma casa de praia ou de campo, quero a liberdade de navegar por este maravilhoso litoral brasileiro sempre que assim me aprouver. Imagino comer uma lagosta com vinho branco ancorado em uma praia deserta, e namorar despreocupadamente, jogos a dois, um mergulho, a água quente, o corpo quente.

Não faço questão de carro, qualquer um serve, desde que me leve pelos caminhos que quero seguir, adoro viajar, pegar a estrada e ouvir uma boa música, descobrir bons lugares para comer na estrada, visitar lugares simples, vilas, lugarejos, aldeias, estar aonde a maioria apenas passa. Dirigir e sentir o carinho da pessoa amada. Parar em algum lugar descer do carro e curtir o momento, namorar...

Estes são os meus motivos para acordar todo dia e trabalhar duro. Ainda que o meu trabalho seja para mim uma grande diversão, amo o que faço, até porque fiz muitas outras coisas antes de me descobrir, fui de tudo, militar, empregado, consultor, empresário, professor, assessor de político, falido... Agora me encontrei, serei advogado pelo resto dos meus dias, tenho consciência disto. Nada me faz tão bem como estudar o direito, viver envolvido com o judiciário, ainda que eu tenha a percepção de que existem muitas deformações, mas não me sujo, não me envolvo, sigo adiante a despeito de todos as ciladas da profissão, me mantenho, como sempre me mantive ao largo de tudo isto. Pretendo ensinar também, a advocacia e o magistério fazem uma boa parceria.

E por fim, mas talvez o sonha mais improvável, gostaria de ter um filho. Mas se assim não o for, serei um ótimo tio. Ou amarei os filhos dos outros, meus amigos, minhas irmãs, meus irmãos, meus afilhados, os filhos de quem eu ame. Ah amigos me chamem para padrinho, eu aceito.

Esta é a vida que eu quero para mim, alguém se habilita?

18.8.05

Solidão, o preço da liberdade?

(A lua vista do meu quarto)


Silêncio...

No silêncio de um momento eu posso ouvir as batidas do meu coração, o vento corta a noite e uiva como um lobo em busca de sua matilha. Ao longe no horizonte a escuridão, o cais do porto deserto, o vento levanta os vestígios de um dia. As ruas desertas, solitárias estão, os carros, os poucos que passam, correm em direção a algum lugar bem distante daqui. O silêncio insiste em acalmar tudo. No céu escuro a Lua.

O telefone chama, do outro lado o bar, os amigos, uma comemoração. Levanto-me e vou...

São 03:09 da manhã o retorno é tranqüilo, as ruas desertas convidam a um passeio, e como um lobo eu sigo no caminho, a alma leve, a mente tranqüila, no ouvido um som, a música se repete Zeca Baleiro - À flor da pele - Recife antigo, rua da moeda, marco zero, início de todos os caminhos e eu no fim.

A ponte, o palácio das princesas, a praça e ao longe eu vejo a janela do meu quarto, um vento frio corta a pele, um calor me toma o corpo, imagens, cheiros, um perfume. Paloma Picasso...

Um carro de polícia, uma moto, alguns bêbados, um casal ali na praça em desesperado momento, passo despercebido, sou invisível, sigo o caminho, a rua, o prédio e agora no MP3 toca Zeca Baleiro - Bicho de sete cabeças - aumento o volume, chega o elevador e termina minha aventura pelas ruas do Recife num madrugada de Bohêmias, bares e reflexões. Tudo muito à flor da pele.
Titãs - Prá Dizer Adeus
Você apareceu do nada
E você mexeu demais comigo
Não quero ser só mais um amigo
Você nunca me viu sozinho
E você nunca me ouviu chorar
Não dá pra imaginar quanto
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais
Às vezes fico assim pensando
Essa distância é tão ruim
Por que você não vem pra mim
Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis chamar
Não dá pra imaginar quanto
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais
Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis
Não dá pra imaginar quanto

É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais

17.8.05

Furacão!!!!!!

(Um temporal se formando)


Estou cansado, ainda não consegui dormir desde ontem, o dia foi intenso, muito trabalho, e no Tribunal de Justiça a velha burocracia de sempre, mas usando de simpatia e paciência se consegue a colaboração dos servidores, é um jogo de sedução onde você não pode perder o foco. Tenho me saído bem nesse campo.

Fui até a Escola da Magistratura para pegar as provas da Ordem que eu havia emprestado a uma amiga, mas ela furou novamente comigo, como sei que ela lê de vez em quando o que escrevo aqui aproveito para registrar meu protesto. Devolve minhas provas que eu tenho que estudar – Pronto - J

Estou decepcionado com o Ministério Público Federal, depois de um bom tempo sem abrir nenhum concurso para Procurador da República quando abrem exigem três anos de atividade jurídica, eu só tenho dois. Estou imaginando um jeito de burlar isto. Tudo bem alguém deve estar dizendo que sou louco em pensar que posso ser aprovado neste que é o mais rigoroso e concorrido de todos os concursos para as diversas carreiras jurídicas no Brasil. Mas eu penso que estou, e caso contrário seria interessante este tipo de avaliação para identificar em qual estágio me encontro.

A partir de hoje não mais falarei dela, pois isto a constrange e não quero vê-la constrangida. Agora vou pros braços de morpheus.

O texto a seguir foi escrito num guardanapo de papel, no bar do Aeroporto Internacional dos Guararapes, durante a madrugada enquanto aguardávamos a chegada de nosso amigo André que voltava da Espanha onde havia estado para titular-se Doutor pela Universidad Autônoma de Madri, é uma homenagem a todos os meus caros amigos.

Ao amigo distante

Estamos a esperar a chegada do amigo...
Vem da terra de Cervantes, traz consigo sua poesia.
Ele estudou na autônoma de Madri, visitou a Andaluzia.
Venha amigo André... Vem trazer tua alegria
Vem juntar-se a nós vem ouvir minha poesia
Vem amigo André receber de nós o abraço comovido
Vamos juntos caminhar pela estrada da vida
Lado a lado sejamos um ao outro: amigo
Vem amigo, vem...
Que tua alegria seja conosco dividida
Tua dor, por nós sentida...
E se tu chorar...
Que nossa lágrima é que seja vertida.
Vem André sejamos amigos como crianças
Como os amigos de minha infância
Ah que saudade dos meus velhos amigos...
A onde foram...Por onde andam...Como estão?
Pudera eu morrer um dia todo dia
A meus amigos não mais rever

(Frederico Pereira)

16.8.05

Um dia perfeito

(Auto retrato do escritor deste blog)
São 22:30 horas e eu não fiz nem metade do que me propus, o dia foi muito intenso, as vezes penso que estou assumindo mais tarefas do que minha capacidade para realizá-las, ainda que intelectualmente me sinta apto, ainda não tenho a desenvoltura prática necessária. Perco muito tempo consultando os códigos, jurisprudência e doutrina, nessas horas gostaria de poder implantar um chip com todas as informações de que necessito dispor para meu trabalho.

Diante de mim estão o Código Civil comentado de Humberto Theodoro, o Código de Processo Civil comentado de Nelson Nery, umas 15 decisões do STF e outras tantas do STJ, a Constituição comentada de Alexandre de Moras e um contrato de convivência a ser terminado. Seria bom se eu tivesse como meu amigo Alex a capacidade de ter os códigos decorados na cabeça. Grande jurista o meu amigo, ainda será reconhecido mundialmente, pois no Brasil sua inteligência já é sabida de todos e sua fama já corre por todo o país entre os estudiosos do direito processual civil. É a tradição da Escola Jurídica do Recife, e há quem diga que já surge a Nova Escola Jurídica do Recife, mas isto é assunto para os jusfilósofos de plantão.

Hoje era dia de passeio ciclístico, corujaqueira, mas as tarefas do escritório trazidas para casa me impediram de desfrutar dos prazeres de pedalar entre centenas de pessoas pelas ruas do Recife. Ainda tem a monografia. A noite via ser longa.

Ainda bem que eu tenho este lugar para escrever, é minha terapia, sempre que estou cansado com as adversidades da vida venho aqui e ponho tudo para fora, é mais barato que minha analista. Que ela não leia isto.

Hoje foi um dia de muita satisfação, percebi que conquistei o respeito de alguém muito especial, uma pessoa criteriosa e equilibrada, alguém cuja opinião para mim faz muita diferença. Se ela vier a necessitar sabe exatamente quem será o seu patrono.

Sou um entusiasta com a carreira jurídica, creio que a despeito da má fama de que goza parte da categoria a profissão de advogado é da mais alta importância na afirmação da cidadania. Só quem se socorre dos serviços de bons profissionais é quem sabe aquilatar a importância do advogado na sociedade. Ainda vou escrever sobre isto.

Hoje no fórum me vi numa situação constrangedora, fui abordado por uma estudante de direito que me pediu ajuda, mas a moça era de uma beleza tão grande que fiquei desconcertado quando ela ao me agradecer me pediu o meu telefone, eu de pronto entreguei o aparelho...

E por falar em beleza já faz parte de minha rotina aguardar o e-mail dela, isto me preocupa, afinal quando ela não tiver tempo para escrever me sentirei órfão de sua atenção. Fazer o quê? Como diria o pensador global “faz parte”.

Acabou o “recreio” volto agora ao trabalho, certo de que terei uma longa e agradável noite na companhia dos livros, das leis e de sua aplicação. E a minha esquerda pela janela do meu quarto vejo a Lua.
Como é bom encontrar alguém

Quero um dia de luta por vez,
Uma tarefa que não seja impossível,
Um sorriso que não seja traiçoeiro,
Quero um irmão amigo e um amigo irmão,
Ser útil a você,
Estender-te a mão,
Alegrar-te na tristeza,
Estar contigo quando vier a solidão,
Quero acima de tudo ser eu mesmo,
Com minhas fraquezas,
Anseios, medos e defeitos.
E se encontrar alguém que me aceite,
Assim como sou,
Já me darei por feliz.

15.8.05

Reflexões

(Foto tirada da janela do meu quarto)

Às vezes damos muito espaço a emoção e deixamos de lado a razão. Hoje tive um dia corrido, a manhã toda preenchida com aulas, das 07:00 às 12:30 horas, saí correndo da faculdade para casa, almoço, banho, um terno azul escuro, camisa grafite e gravata preta com detalhes prata. Gosto de ternos escuros, tons discretos, gosto de estar adequadamente vestido para cada ocasião, formal para trabalhar, casual para sair e descontraído para estudar. E principalmente adoro ir ao Shopping de havaianas, bermuda e camisa hering de algodão, existe algo de rebeldia nisso, o que eu não sei.

Havia um atendimento para as primeiras horas da tarde e a cliente chegou na hora marcada, mais uma pensão, mas um conflito familiar, muita atenção para ouvir, muito pouco a dizer, anotações, um pouco de psicologia e no final, no rosto da cliente antes perturbada, um sorriso de confiança, vamos assumir o caso. Reunião com o chefe para relatar o atendimento, discussão da estratégia a adotar e uma visita ao Fórum do Recife, tínhamos um prazo para dar entrada e um processo para dar andamento. Esforços infrutíferos, o prazo é para amanhã e o juiz foi ao médico.

De volta ao escritório uma rápida organizada na agenda e a certeza de que amanhã o dia deverá ter 48 horas. Já em casa a rotina de sempre, ver e-mail, Orkut e escrever minhas impressões. Então resolvi olhar o Blog dela. Fiquei observando cada foto como se fora a primeira vez, tentei compreender cada sentimento ali eternizado. Confesso que me senti um intruso, um penetra em uma festa para a qual não fora convidado. Senti-me um usurpador. Resultado disto é que estou me sentido culpado. Julgado, condenado e sem direito a recurso. Fico me perguntando se não estou causando algum mal a quem quero o bem.

Amanhã começo a escrever minha monografia de final de curso, agora com o novo tema, A conversão da união estável em casamento no novo código civil. Espero que o tempo seja suficiente para todo o trabalho. Mas fiquei feliz com a minha coragem em mudar o tema e começar do zero, afinal este novo tema é muito atual e intrigante, além de inédito.

Sinto que estou motivado para seguir adiante com os meus projetos, pretendo focar minha atenção nisto. O coração está um deserto, o corpo carece do carinho dela, o que antes era apenas uma projeção hoje é um sentimento real, conheço o seu toque, o gosto do seu beijo, o calor de suas palavras, e fica cada vez mais difícil não pensar nela.

Mas tenho a compreensão de que o momento atual é de observação, saberei lidar com esses novos sentimentos, vou seguir no meu caminho e talvez em alguma momento da caminhada eu a encontre e ande com ela alguns passos. No momento não há espaço para expectativas, planos ou projetos para nós dois. Talvez nunca haja um amanhã para o nosso encontro, tenho consciência disso e não sofro. Aprendi a ser grato pelo momento vivido, pois mais vale um instante de felicidade a uma eternidade de busca.

Queria saber tocar um instrumento e cantar para ela...


Tocando em Frente
(Almir Sater/Renato Teixeira)


Ando devagar
porque já tive pressa
E levo esse sorriso
porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor
Prá poder pulsar
É preciso paz prá poder sorrir
É preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu sou
Estrada eu vou
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega e no outro vai embora
Cada um de nós compõe
A sua própria história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz.

Morre o homem, fica o mito.


Fim de semana tranqüilo, jogo de tênis e praia, andar descalço pisando a areia da praia faz bem, relaxa e serve para por as idéias no lugar. Difícil não pensar nos acontecimentos recentes do último fim de semana, mas temos que seguir em frente.

No fim da noite do sábado a surpresa, o e-mail dela contanto sobre sua chegada, mas ficou algo no ar, como se nem tudo tivesse sido dito...

Sábado foi interessante, pela manhã um bom jogo de duplas, apesar de não gostar de jogar duplas estou melhorando nessa modalidade, prefiro jogar simples, pois a responsabilidade do jogo é toda minha, mas estou aprendendo a dividir com o jogo de duplas. Almoço em família e tempo para colocar os estudos em ordem, tenho muito a fazer, monografia de fim de curso e manter as matérias em dia. Resolvi cumprir um programa de estudos para o próximo concurso para o cargo de Procurador do Estado, seja qual for o estado, de preferência Pernambuco ou o Distrito Federal.

A cada dia me sinto mais atraído pela idéia de voltar a morar em Brasília, fui muito feliz por lá. Tenho muitos amigos que lá deixei e tem a presença dela. Além de ter muitas perspectivas profissionais naquela região. Mas não me apresso, tenho tempo, por hora devo aprofundar os estudos e estar preparado para qualquer eventualidade. Se eu me disciplinar e cumprir um programa regular estarei apto.

Vivi uma experiência interessante, descobri que tenho uma admiradora secreta, ela inclusive lê o que escrevo regularmente neste lugar. Foi uma grata surpresa, conversamos muito, e aos poucos estou conhecendo-á, a princípio me pareceu uma boa pessoa. Nosso primeiro contato foi por e-mail depois conversamos pelo MSN, coisas de nossa sociedade virtual, hoje vivemos conectados e temos na grande rede um instrumento de expansão dos nossos relacionamentos. Muito bom isso.

Domingo dia dos pais, engraçado esse dia nunca teve grande importância para mim, talvez por ter meu pai morrido muito cedo, cresci habituado ao vazio e a falta de significado deste dia. Como acho pouco provável que eu, ainda, venha a ser pai talvez nunca compreenda o verdadeiro significado desse dia.

Imagino como tenha sido o domingo dela, dia dos pais, todos reunidos, senti um aperto no peito, como não poderia deixar de ser. Penso na repercussão dos últimos acontecimentos em sua vida, me preocupa como ela está administrando tudo isso. Mas nada posso fazer, não está em minhas possibilidades influir. Sou um mero expectador, ainda que diretamente envolvido, estou impotente diante de tudo. Tem que ser assim. Espero que ela esteja bem.

Amanhã será um novo dia, o primeiro de muitos de um caminho que me proponho a seguir.

No fim da tarde da janela do meu quarto vi o cortejo fúnebre do ex-governador Miguel Arraes, passou debaixo do meu prédio, foi algo realmente solene, sua plêiade o seguia, passos lentos diante do squife, a multidão aplaudia em tributo àquele que dedicou sua vida a coisa pública, com honestidade, zelo pelo erário, e principalmente com uma visão de estadista, projetando suas ações para o futuro. O brado popular declarava:

Arraes guerreiro do povo brasileiro

12.8.05

Bicho de sete cabeças


Hoje é sexta-feira, fim de uma semana atípica, encontros e desencontros, fim de uma viagem, fim de um sonho, fim de um capítulo dessa história que é a minha vida. Pela manhã tivemos a licitação para contratação de escritórios de advocacia por uma grande estatal. Chegamos 15 minutos antes, impecavelmente vestidos, barbeados, cheirosos. Na sala do pregão muitas gravatas e ternos iguais, todos dentro do padrão que se espera de um advogado. As mulheres como sempre fazem a diferença, usam de muitos artifícios para estarem elegantes e destacadas. Mas entre as jovens mulheres presentes nenhum tinha a elegância dela.

O dia transcorreu dentro de uma normalidade linear e terminou sem novidades. No fim da tarde resolvi ligar para ela, pretendia desejar-lhe uma boa viagem de volta ao lar, mas seu telefone estava desligado. Talvez propositadamente, quem saberá? Então mandei duas mensagens de texto pela Internet. Espero que cheguem ao seu destino, as mensagens e ela, em paz.

Hoje assisti pela primeira vez ao videoclipe feito a partir do discurso de Tim Cox paraninfo da turma de 1999 de alguma escola americana, que escola precisamente eu desconheço. Fiquei emocionado com as imagens, música e principalmente com o conteúdo do texto. Confesso que por alguns momentos me senti feliz em ser quem sou e viver como vivo, parecia que o Tim falava para mim.

À noite liguei para ela, ouvir sua voz foi muito bom, ela estava no seu estado normal, centrada, segura, tranqüila, a conversa fluiu de uma maneira agradável, fiquei tranqüilo com o seu bem estar, agora sei que nosso encontro não lhe trará cicatrizes, a leveza de sua voz me fez sentir o seu cheiro, o seu toque, lembrar do seu sorriso e do barulho de sua respiração...

Não havia razão para tudo o que foi dito no dia anterior, muito barulho por nada, muita precipitação nos julgamentos e principalmente muitos julgamentos. Tudo flui, como dizia Eráclito.


Tim Cox - Segundo a informação que obtive teve câncer de pele.

Senhoras e senhores da turma de 99:

Filtro solar!

Nunca deixem de usar o filtro solar. Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: usem o filtro solar! Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência; Já o resto dos meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria existência errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês.
Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado. Mas, pode crer, daqui a 20 anos, você vai evocar as suas fotos e perceber de um jeito - que você nem desconfia hoje em dia - quantas tantas alternativas se lhe escancaravam à sua frente, e como você realmente estava com tudo em cima. Você não está gordo! Ou gorda...
Não se preocupe com o futuro. Ou então se preocupe, se quiser, mas saiba que pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade de sua vida tendem vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de uma terça feira modorrenta. Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo mesmo.

Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano. Use o fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo. Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine. Guarde as antigas cartas de amor. Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.
Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda não sabem. Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos. Você vai sentir falta deles.
Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer, não se auto-congratule de mais, nem seja severo de mais com você. As suas escolhas tem sempre metade de chance de dar certo. É assim pra todo mundo.
Desfrute do seu corpo. Use-o de toda a maneira que puder, mesmo. Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance.
Mesmo que não tenha aonde além do seu próprio quarto. Leia as instruções, mesmo que não vai segui-las depois. Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio. Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro. Entenda que os amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.
Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando era jovem. More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.
Aceite certas verdades inescapáveis: Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear. Você, também, vai envelhecer. E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem, os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, e as crianças respeitavam os mais velhos. Respeite os mais velhos. E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria. Talvez case com um bom partido. Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar. Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos 40 vai aparentar 85. Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
Mas, no filtro solar, acredite.

11.8.05

Talvez eu seja o último romântico

Hoje se comemora o dia do advogado, há 178 anos eram criados os cursos jurídicos no Brasil, um em Olinda e outro em São Paulo. O dia corria tranqüilo, a rotina do escritório, almoço com amigos no Cuba do Capibaribe, reunião e atendimento de um cliente, dessa vez não será uma separação, mas uma união, depois de anos eles resolveram casar-se. No fim da tarde já cansado afrouxei o nó da gravata, tirei o paletó e relaxei na poltrona. Havia no telefone celular uma ligação dela.

Há momentos na vida em que parece que tudo vai bem, todas as coisas acontecem dentro de uma lógica precisa, tenho vivido algo assim, até ela aparecer. Senti que perdi o controle, mergulhei no escuro. Um dia nos anos 80 durante um vôo no Aeroclube de Luisiana, estado de Goiás, meu instrutor avisou que teríamos que sofrer uma perda era parte do treinamento para piloto privado, e simularíamos uma situação para que quando viesse a ocorrer de fato eu estivesse preparado para reagir corretamente. Pena que na vida não fazemos simulações, temos que viver o momento e então reagir a ele.

Arrependo-me de ter retornado a ligação, tudo está muito recente, as emoções à flor da pele, as situações que se me apresentam não estão previstas no “manual”, então o que fazer? Qual a rota a adotar? Sinto-me num vôo cego, meus instrumentos falharam, então tenho que decidir entre prosseguir o vôo no visual ou buscar um lugar para um pouso de emergência.

Tenho a tendência de viver com muita intensidade cada momento da vida, não consigo ser um expectador, tenho que estar no olho do furacão. Eu não faço sexo, faço amor, eu não beijo, me entrego. Acho que sou mesmo é exagerado. Mas gosto de viver assim, que me importa o que os outros pensam? Importa sim quando o outro é alguém especial.

E não quero ser visto como dramático, não o sou. Sou intenso, atirado, inconseqüente, sou um homem livre, e tenho diante de mim o mundo, há tantos caminhos a serem trilhados, tantas emoções a serem sentidas e estou aberto a todas elas, persigo o epitáfio “Confesso que Vivi” e quero da vida tudo o que ela me reserva, cada pôr-do-sol, cada amanhecer, cada luar, cada estrela no céu, cada sorriso e cada lágrima, afinal não há dia sem noite, e nenhuma dor que não tenha em troca um grande prazer.

De uma coisa eu tenho certeza, jamais serei compreendido.




Minha Essência

Sentado na areia da praia olhando o mar,
Ouvindo o barulho das ondas,
Sinto o toque do vento em meu rosto,
Fecho os olhos e me deixo levar...
Sinto-me como uma gaivota,
Voando sobre o mar,
Gritando bem alto,
Vencendo ao vento,
Subindo aos céus,
Mergulhando no mar de águas claras.
Na imensidão desse horizonte contemplo o meu destino,
Meu caminho...
Não sou daqui,
Não sou de nenhum lugar,
Sou do mundo,
Viajante nesta terra de sonhos,
Prisioneiro de mim mesmo,
Refém do nosso tempo...
Ah! Liberdade que me tentas,
Esse gosto de partida,
Essa inquietude de minha alma,
Esse não querer ser comum...
Assim sou eu,
Um pescador de ilusões,
Um aprendiz de poeta,
Um sonhador...
Ou apenas um homem em busca de si mesmo.

Recife, 2000.

10.8.05

Encontros e desencontros

Mote de Amor
Que o meu coração seja o teu descanso
No meu peito a tua guarita,
Que o teu pranto seja o meu pranto
A tua dor por mim sofrida
A saudade é uma chama que arde dentro da gente...

A cidade está deserta e pela janela do meu quarto entra o vento frio da saudade, o silêncio da noite só é quebrado pelo toque de meus dedos no teclado, diante de mim só lembranças do último fim de semana. Uma viagem, a chegada, a espera, o encontro...

O encontro foi singelo, um sorriso um abraço e o convite para o jantar. Sua amiga declinou e preferiu deitar-se para descansar da viagem, isto foi muito gentil e conveniente. No Jantar alimentamos a alma, falamos do passado e do presente, dos desencontros que a vida nos proporciona. E ela com aquele sorriso...

Encontrei nela uma dama, não como estamos habituados a definir, encontrei nela uma mulher que tem classe até para caminhar à noite por uma estrada de barro. Seus gestos, seu olhar, ah! O seu olhar tem tanta doçura e tanta força juntas. Devíamos ter caminhado juntos naquela noite escura na praia, mas minha razão nos impediu, não poderia expô-la ao perigo de um assalto ou algo pior. Com ela eu não me atrevo a correr riscos. Quero protegê-la, cuidar de seu bem estar. Quero servir-lhe o café na cama. Massagear seus pés. Cobri-la de beijos e no seu ouvido sussurrar poesias. E como ela é linda...

Dias longe se passaram que a lembrança traz agora...

Os anos não lhe atingiram, ela continua a mesma garota que eu um dia vi passar por mim sem ao menos me olhar, e quando me olhou sorriu, e foi esse sorriso que abriu as portas do meu coração. Já se passaram 25 anos dede o primeiro encontro e ainda sinto a mesma sensação ao encontrá-la, as pernas enfraquecem, o coração dispara, o corpo aquece, e as palavras ficam difíceis. E como sua voz é suave...

A vida segue o seu rumo na estrada do destino...

No dia seguinte acordei tão só, havia um silêncio perturbador, um vazio incomensurável, mas ali tão perto estava ela, parei diante de sua porta e fechei os olhos em busca de sua imagem. Segui meu caminho de volta. Na viagem as imagens se repetiam e como num filme eu assistia a mim mesmo naquele encontro. Sinto que a perdi novamente, desta vez para o tempo, as circunstâncias, a distância, e tudo o que de sua vida restou. Eu ainda estou só e caminho entre as ruas do Recife à noite, e quando olho pro céu e vejo o cruzeiro do sul lembro dela. E como é bom sentir no peito bater o coração.
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Sonho de um amor

Sonho em amar-te desesperadamente
Ver-te ao longo do caminho
Ter-te sempre em minha mente
E por assim sonhar jamais ficar sozinho.

Sonho em beijar-te a boca suavemente
E te olhar nos olhos, e te tocar a pele.
E te aperta nos braços e assim de repente
Sentir arrepiar do corpo todo pêlo.

Sonho como uma criança, e inocentemente
Desejo em vão tocar o inatingível
E ter em mim o teu amor eternamente.

Sonho então este sonho incrível!
No entanto em pranto, creio firmemente,
Que não te amar assim seria impossível.


Recife 03 de julho de 1999